SEGURANÇA PÚBLICA

Mato Grosso do Sul é o estado com maior taxa de aprisionamento feminino

Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias aponta que o tráfico de drogas foi responsável por 77% das prisões de mulheres no Estado

Dândara Genelhú, Pâmela Machado e Stefanny Azevedo29/11/2018 - 20h48
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Mato Grosso do Sul é o estado com maior taxa de aprisionamento feminino, com 113 presidiárias para cada grupo de 100 mil mulheres, segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). A pesquisa foi divulgada pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), baseada em dados de 2016. O estudo aponta que o tráfico de drogas foi responsável por 77% dos crimes que encarceraram mulheres no Estado e para o Brasil a mesma incidência penal corresponde a 62% das condenações no ano de 2016.

De acordo com o Mapa Geral de presidiários de Mato Grosso do Sul, divulgado pelo portal da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), o total de presos no Estado é de 17.428 e, deste número, 981 são mulheres. Segundo o estudo Diretoria de Análise de Políticas Públicas, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), entre anos 2000 e 2016, os índices de mulheres nos presídios aumentou 567% no país.

A chefe das Unidades Penitenciárias Femininas de Mato Grosso do Sul, Jane Maria Motta afirma que a maior parte das mulheres presas por tráfico de drogas são mães jovens e com formação escolar do ensino fundamental. Jane Maria Mota ressalta que a reinserção destas mulheres na sociedade é um desafio. “Existem muitos prejuízos na vida dessa pessoa, sem contar o rótulo, quando você leva um rótulo de prisão o processo pós é árduo”.

Jane Maria Mota ressalva que o principal fator para os altos índices de tráfico de drogas realizado por mulheres são as fronteiras do estado, internacionais e estaduais. Ela afirma que, por dia, em Campo Grande, pelo menos oito mulheres são admitidas nos presídios por tráfico de drogas. “Como o tráfico é um crime que prende a pessoa em flagrante, ela vem para prisão depois da audiência de custódia”.

Principais Fatores

A mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Mônica Dantas realizou um estudo sobre a mulher e o delito, a respeito das mulheres egressas do sistema prisional de Mato Grosso do Sul. A psicóloga constatou que uma parte das detentas cometeram crimes por influência dos parceiros. “Eu constatei que essas mulheres, entraram no mundo do crime, entraram no mundo da contravenção por conta do vínculo e do aprendizado que elas tiveram com esses homens, que no caso são os parceiros. De uma forma muito sutil e sedutora, eles a convencem, de uma forma muito velada”.

Mônica Dantas afirma que a estrutura da sociedade, patriarcal, afeta as mulheres que são encarceradas. “Ao perguntar para essas mulheres qual era a representação social delas sobre gênero, o que elas achavam de igual e diferente entre homens e mulheres, a todo momento elas deixam claro que a mulher é aquela que tem que manter o elo, que tem que perdoar, que tem que fazer o que o marido manda. Aquela submissão típica da construção patriarcal da nossa sociedade”.

Segundo Mônica Dantas, os estudos apontaram para dois resultados que justificaram o número de mulheres encarceradas no Estado. O primeiro foi a pressão psicológica que os parceiros exercem sobre as mulheres, quando companheiros presos utilizam a chantagem emocional e manipulação. Outro resultado apontado foi a busca por emancipação, com alegação de rentabilidade. “E a outra parte com esse aumento de mulheres sendo detidas, está relacionada com a emancipação dessas mulheres, as mulheres estão buscando se emancipar no trabalho, no estudo, dentro de casa e também no crime. Muitas delas têm cometido crime porque quer, porque é rentável, porque elas se sentem mais poderosas”.

A presidiária Flávia Lino afirma que foi presa por tráfico de drogas, estava em casa quando os entorpecentes que pertenciam ao marido foram encontrados pela polícia, há dois anos. Flávia Lino possui objetivos e sonhos a serem realizados após o cumprimento da pena. “Estava fazendo curso de auxiliar veterinário, quero continuar na área. Nunca tive problema com serviço, sempre trabalhei, tenho seis anos de carteira registrada e lá no regime fechado trabalhei em creche”.

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