A professora do curso de Psicologia da UFMS, Zaira de Andrade Lopes afirma que o Observatório é importante, pois busca organizar todas as discussões no que diz respeito à violência contra a mulher em Campo Grande e em Mato Grosso do Sul. De acordo com a professora, os alunos da graduação e do Mestrado em Psicologia realizam pesquisas para compreender a violência contra a mulher. “Participar do Observatório com o curso de Psicologia articulado com o curso de Direito, a Casa da Mulher Brasileira e a Subsecretaria de Política para as Mulheres é fundamental para enriquecer tanto a formação de nossos alunos como também promover a discussão no âmbito dos futuros profissionais de psicologia que vão atuar no mercado, com práticas psicoterapêuticas e com políticas públicas. Nesse sentido, conhecer o fenômeno, lidar, estudar, pesquisar, é fundamental”.
Segundo a professora “ a gente fala muito da violência física, que deixa marcas, cicatrizes, mas até chegar na violência física, que muitas vezes também chega ao feminicídio, ela inicia com a violência psicológica”. Para Zaira Lopes, saber identificar essa violência com a qual as mulheres vivem é fundamental. De acordo com a professora, acompanhar diretamente os índices de violência no estado, especificamente a atendida pela Casa da Mulher Brasileira, dará sustentação maior para saber como e porque essas mulheres são alvos de violência e feminicídio. “A gente precisa entender o fenômeno para que a gente possa intervir de forma mais eficiente e diminuir esses índices absurdos. O Observatório é uma organização para dar um maior suporte, maior visibilidade a ações que a gente já vem desenvolvendo no curso”.
Para o aluno do curso de Mestrado em Direito, João Pedro Rodrigues a participação no programa “é muito relevante, porque na faculdade a gente aprende pouco sobre a Lei Maria da Penha, a gente aprende sobre direito penal, tem aulas sobre psicologia”. Segundo o estudante no Observatório eles têm a oportunidade de aplicar e aprender na prática sobre o tema. “Eu acho que o principal benefício para os alunos é justamente esse aprendizado prático sabe, o conhecimento mais real e não tanto dos livros”.
De acordo com a Lei 11.340, configura "violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial".
Vítima de violência doméstica
Zuleica de Almeida relata que no começo do relacionamento o namorado apresentava acessos de ciúmes, e foi só depois de alguns anos de namoro que ele começou as agressões. "Eu me mudei de Deodápolis para Campo Grande quando estava para fazer três anos o nosso relacionamento, porque de repente ele quis casar. Com dois meses morando na mesma casa que ele, descobri que ele tinha uma namorada de um ano e meio e, que ele gostaria de ter um relacionamento com nós duas, como não aceitei ele me espancou e me humilhou".
Profissionais despreparados
Segundo as autoras do artigo 'A violência contra mulher no cotidiano dos serviços de saúde: desafios para a formação médica', Cláudia Mara e Mary Jane uma das queixas relacionadas às delegacias que atendem mulheres vítimas de agressão é a falta de preparo. "Organização Mundial da Saúde (OMS) há tempos vem proclamando a necessidade de preparar os profissionais de saúde para o enfrentamento da violência contra a mulher, pois os dados comprovam que a questão está sendo subnotificada, ocultada ou não documentada (OPAS, 1998)". De acordo com a diretora do curso de Direito da UFMS, o Observatório vai funcionar como forma de criação de ações de prevenção à violência e formação de gestores e profissionais para atender esses casos. Para Zuleica Almeida, o Observatório será uma forma de conscientização para as mulheres e, também, uma maneira de diminuir o número de violência doméstica praticada pelos parceiros.