O Pronto Atendimento Médico (PAM) do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS), em Campo Grande, foi fechado por quatro dias após registrar superlotação de pacientes. A interdição afetou o atendimento nas divisões verde de gravidade baixa, amarela de gravidade mediana e vermelha de alto risco. O PAM ficou impossibilitado de receber novos pacientes do dia 16 a 20 de agosto.
A médica e chefe da Unidade de Urgência e Emergência do Humap-UFMS, Rachel Domingos afirma que o Pronto Atendimento do hospital possui 238 leitos hospitalares. "Dentro dos nossos leitos a quantidade máxima suportada é de 26 pessoas. Quando tivemos que interroper os atendimentos no mês de agosto, haviam 70 pessoas na fila de atendimento".
Rachel Domingos ressalta que a falta de leitos no dia em que o hospital foi interditado foi devido a superlotação. “50 pessoas foram colocadas onde cabiam três enquanto continuavam com o direcionamento de pacientes pacientes para o setor. Não negávamos atendimento nas áreas de prioridades, onde a situação era mais séria, claro. Mesmo enquanto o hospital estava fechado, a equipe prestou o melhor atendimento possível aos pacientes, independentemente da situação".
A diarista Conceição Silva acompanha sua mãe no tratamento da úlcera no Hospital Universitário e argumenta que um atendimento rápido é essencial para tratar as enfermidades de modo adequado. “No dia da superlotação eu não precisei de atendimento, mas minha mãe que trata de problemas mais graves disse que no começo foi uma situação estressante, embora tudo se tornou melhor quando os médicos correram para ajudar todos que puderam”.
A dona de casa Maria Helena Rodrigues foi tratada no hospital por um problema no estômago e relata que o principal fator para a situação ser controlada foi a organização do setor e a dedicação dos médicos. “Sempre utilizo o Pronto Atendimento. Quando chegamos já estava lotado, mas fomos super bem atendidos. Os médicos 'fizeram das tripas o coração', eles são super queridos e atenciosos”.
A aposentada Adejanir Machado utiliza os serviços do Humap-UFMS há 10 anos para tratar uma hérnia e ressalta que, com a idade avançada, os problemas de saúde a tornaram dependente dos serviços médicos. Durante o período, o relacionamento com os médicos e funcionários do hospital foi essencial para o tratamento doença. "Eu nunca achei que chegaria nessa idade com tantos problemas, mas mesmo com essas dificuldades a gente mantém a fé em Deus e mantém também o carinho pelos médicos daqui. O que ajudou a gente não foi só o tratamento, mas o respeito que eles tiveram com a gente".
De acordo com a médica do Humap-UFMS, Rachel Domingos o número excessivo de pacientes no Pronto Atendimento Médico do hospital tem relação com a baixa quantidade de leitos para um grande demanda de pessoas. Um dos fatores responsáveis pela superlotação é a distribuição de pacientes que privilegia o tratamento na capital do que em outras macroregiões de Mato Grosso do Sul. “Campo Grande recebe todos os dias pacientes de macroregiões que teriam condições de atender os pacientes como Dourados, Três Lagoas e região, por limitações de toda essa rede (leitos) que nosso estado tem”.
A médica ressalta que o sistema de regulação Complexo Regulador Estadual (Core) é uma diretriz centralizadora de Mato Grosso do Sul, que encaminha enfermos com doenças graves ou muito graves para uma cidade do estado com hospital capacitado para tratamentos específicos. “Com os dados em mãos, se o paciente está em estado grave, muito grave, o médico avalia qual a prioridade do seu paciente. Assim, o próprio Core define quem vai usar o leito que está vago, o problema é que isso não distribui leitos e sim excesso, e isso é um problema grave”.
Rachel Domingos aponta que a superlotação é rotineira e resultado da falta de vagas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Quando comparado a hospitais da capital, o Humap-UFMS é menor, com 240 leitos, em comparação com os 591 da Santa Casa de Campo Grande. “Outro problema grave que também gera concentração é a falta de investimentos na carreira do médico, onde a profissionalização não costuma integrar médicos nas regiões do interior”.