SAÚDE

Samu registrou 25 mil ocorrências de trote em Campo Grande em 2015

Os trotes feitos para o serviço de emergência impossibilitam atendimentos reais e causam gastos desnecessários à Saúde Pública

Jade Amorim e Letícia Ávila 4/02/2016 - 19h56
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O Sistema de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Campo Grande registrou 25.882 ligações configuradas como “trotes” em 2015. Nesse número estão inclusos os atendimentos para informações, enganos, tentativas de trotes, atualizações de quadro de pacientes e outros tipos de ligações que não resultaram em nova ocorrência. No total, o Samu recebeu 485.422 ligações, inclusas as consideradas trotes. 

O Corpo de Bombeiros de Campo Grande, no dia 21 de janeiro de 2016, foi acionado para atender uma emergência de abandono de bebê recém-nascido, na Avenida Gury Marques. Ao chegar no local, as viaturas constataram que era um trote. 

De acordo com o bombeiro militar Thiago Barbosa, existem métodos para identificar um possível trote aos serviços de emergência. “Normalmente os trotes são efetuados de orelhão telefônico e o nosso telefone no quartel identifica as chamadas”.

A atividade criminosa prejudica os sistemas de atendimento pelo uso das viaturas e de mão de obra qualificada para uma ocorrência inexistente. Segundo Barbosa, os trotes impedem o atendimento de uma situação real. “Achamos que é uma emergência e acontece uma de verdade durante o trajeto para atender o trote. Os riscos de tragédia são muito maiores, porque não chegaríamos a tempo”.

O médico intervencionista do Samu, Tobias Reis, explica que, às vezes, é possível identificar o trote pelo discurso da pessoa na ligação. “O telefonista pergunta sobre o local para identificar se a pessoa está lá. Na conversa é possível saber se ele inventou pelo estado clínico que ele descrever”. Reis diz que vivenciou a experiência de trote. “Mais de uma vez fomos acionados para atender uma ocorrência e chegando no local, não havia ninguém nos esperando”.

Reis explica que o trote telefônico para os sistemas de emergência causa também prejuízos financeiros. “Quando você empenha todo um aparato para atender uma ocorrência que não existe, o prejuízo é muito grande. Financeiramente é ruim porque você gasta dinheiro público, que não é barato. O recurso de uma viatura é caro”.

De acordo com o médico, a população precisa ser mais responsável para que os trotes acabem. “É necessário uma conscientização por parte da sociedade civil, das empresas e das escolas para que o serviço básico ou avançado só seja acionado nos casos necessários”. 

A ocorrência de trotes, ligações de comunicação falsa sobre um crime ou emergência, é crime de acordo com o artigo 266 do Código Penal. Ao ser comprovado, o indivíduo pode ser autuado por falsa comunicação de crime, fraude processual, denunciação caluniosa e obstrução à Justiça sob risco de pena de até oito anos de reclusão.

O delegado titular da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (DERF), Reginaldo Salomão, destaca que a pessoa que passar trote também pode ser processada pelas despesas de deslocamento dos veículos. "Uma viatura do Corpo de Bombeiros toda equipada, num deslocamento fajuto que pode durar de 30 a 40 minutos, tem um custo em torno de R$ 10 [mil] a R$ 15 mil reais. As pessoas têm que entender que a verba estadual tem limites, mas as ocorrências não. Esse dinheiro deve ser bem administrado e não pode ser desperdiçado com falsas denúncias".

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