Mato Grosso do Sul possui o segundo maior cadastro de doadores da região Centro-Oeste, com aproximadamente 144 mil registros, de acordo com dados do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). O Estado perde apenas para Goiás que tem 191.198 doadores cadastrados. Segundo esse levantamento, o Brasil tem 4.679.277 doadores voluntários. A medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que ocupa a cavidade dos ossos e por meio dela ocorre o desenvolvimento das células sanguíneas, como a produção de leucócitos (glóbulos brancos), hemácias (glóbulos vermelhos) e plaquetas.
A responsável pela Captação de Doadores de Medula Óssea do Hemocentro Coordenador, Lucéia Maria Fernandes ressalta a importância das pessoas participarem e se cadastrarem como doadoras. “Quem espera e precisa do transplante de medula óssea são pacientes normalmente com leucemias ou doenças relacionadas ao sangue. Quando ele precisa de um transplante é porque o tratamento medicamentoso ou quimioterápico não faz mais efeito e para ele continuar com uma qualidade de vida, vai precisar trocar a medula óssea”.
O professor Carlos Alberto Rezende recuperou-se da aplasia medular por meio de doação recebida e criou o projeto “Sangue Bom” para conscientizar a sociedade sobre a importância de ser um doador de medula óssea. Em abril de 2017, a iniciativa se transformou em Instituto Sangue Bom, que realiza ações solidárias, palestras sobre o que é doação de sangue, medula óssea, órgãos. Os debates abordam também as características de cada doação, com objetivo de incentivar o cadastro de doadores. Rezende destaca que a criação do instituto é uma forma de retribuir o tratamento recebido e proporcionar um maior número de doações. “É a minha forma de agradecer por estar vivo, minha forma de agradecer ao meu doador e lutar para que mais pessoas tenham o mesmo destino que estou tendo”.
Além do Instituto “Sangue Bom” há grupos de conscientização em Campo Grande, como a Liga do Bem, grupo social voluntário criado em 2014, em que os participantes utilizam figurinos de heróis, figuras de histórias em quadrinhos ou de produtos de televisão nas ações solidárias. O personal trainer Everton Prates participa da organização como personagem “Batman” e é doador de medula. “A gente se divide em dois grupos que são todos membros da Liga do Bem e esses grupos participam de uma campanha onde quem conseguir mais números de doadores ou mais heróis e voluntários para fazer o cadastro de doação da medula óssea, acaba ganhando a gincana”.
O estudante Bruno José Medeiros foi incentivado a ser doador ao descobrir que a amiga tinha um grave problema de saúde. Medeiros afirma que, no início, teve medo e depois se cadastrou porque percebeu que poderia salvar uma vida. “Parando para pensar, não vale eu deixar de fazer isso por uma dor de nada. A recompensa é muito maior”.
Processo de doação
A médica hematologista Evelyn de Oliveira ressalta que para ser um doador é necessário ter entre 18 e 55 anos de idade. “Ele passa por uma avaliação de saúde com entrevista, exame de sangue para poder caracterizar que ele tem condições clínicas, condições físicas e saúde para que não seja prejudicial para ele e nem para a pessoa que vai receber essa medula óssea. Então, ele não pode ter nenhuma doença infecciosa, não pode ter nenhuma doença que possa prejudicar ele durante o procedimento e deve ter compatibilidade com uma pessoa que está precisando e a partir daí vai fazer uma avaliação”.
De acordo com a responsável pela Captação de Doadores de Medula Óssea do Hemocentro Coordenador, Lucéia Maria Fernandes a chance de uma pessoa sem parentesco ser compatível é de um em cem mil no Brasil e de um em um milhão no mundo. Ela afirma que é essencial que o cadastrado esteja presente até a última etapa da doação. Para Lucéia Fernandes, a falta de informação e o medo são as principais causas de desistência. “As pessoas que fazem o cadastro não têm muita informação, não sabem diferenciar o que é medula óssea, da medula espinhal. Ela acha que pode mexer na coluna e ter risco de ficar com sequelas físicas. Acha também que quando ela faz o cadastro, que é preencher a ficha e coletar a amostra de sangue, acha que isso já é doação e quando acontece de ser compatível, que a gente liga e convida para fazer a doação, ela se assusta”.