SAÚDE

Cadastro de doadores de medula óssea de Mato Grosso do Sul é o segundo maior da região Centro-Oeste

O Estado, com aproximadamente 144 mil registros de doadores, fica somente atrás de Goiás no ranking do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea

Fernanda Venditte, Julia Renó e Mara Machado 2/10/2018 - 00h41
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Mato Grosso do Sul possui o segundo maior cadastro de doadores da região Centro-Oeste, com aproximadamente 144 mil registros, de acordo com dados do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). O Estado perde apenas para Goiás que tem 191.198 doadores cadastrados. Segundo esse levantamento, o Brasil tem 4.679.277 doadores voluntários. A medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que ocupa a cavidade dos ossos e por meio dela ocorre o desenvolvimento das células sanguíneas, como a produção de leucócitos (glóbulos brancos), hemácias (glóbulos vermelhos) e plaquetas.

A responsável pela Captação de Doadores de Medula Óssea do Hemocentro Coordenador, Lucéia Maria Fernandes ressalta a importância das pessoas participarem e se cadastrarem como doadoras. “Quem espera e precisa do transplante de medula óssea são pacientes normalmente com leucemias ou doenças relacionadas ao sangue. Quando ele precisa de um transplante é porque o tratamento medicamentoso ou quimioterápico não faz mais efeito e para ele continuar com uma qualidade de vida, vai precisar trocar a medula óssea”.

O professor Carlos Alberto Rezende recuperou-se da aplasia medular por meio de doação recebida e criou o projeto “Sangue Bom” para conscientizar a sociedade sobre a importância de ser um doador de medula óssea. Em abril de 2017, a iniciativa se transformou em Instituto Sangue Bom, que realiza ações solidárias, palestras sobre o que é doação de sangue, medula óssea, órgãos. Os debates abordam também as características de cada doação, com objetivo de incentivar o cadastro de doadores. Rezende destaca que a criação do instituto é uma forma de retribuir o tratamento recebido e proporcionar um maior número de doações. “É a minha forma de agradecer por estar vivo, minha forma de agradecer ao meu doador e lutar para que mais pessoas tenham o mesmo destino que estou tendo”.

Além do Instituto “Sangue Bom” há grupos de conscientização em Campo Grande, como a Liga do Bem, grupo social voluntário criado em 2014, em que os participantes utilizam figurinos de heróis, figuras de histórias em quadrinhos ou de produtos de televisão nas ações solidárias. O personal trainer Everton Prates participa da organização como personagem “Batman” e é doador de medula. “A gente se divide em dois grupos que são todos membros da Liga do Bem e esses grupos participam de uma campanha onde quem conseguir mais números de doadores ou mais heróis e voluntários para fazer o cadastro de doação da medula óssea, acaba ganhando a gincana”.

O estudante Bruno José Medeiros foi incentivado a ser doador ao descobrir que a amiga tinha um grave problema de saúde. Medeiros afirma que, no início, teve medo e depois se cadastrou porque percebeu que poderia salvar uma vida. “Parando para pensar, não vale eu deixar de fazer isso por uma dor de nada.  A recompensa é muito maior”.

Processo de doação

A médica hematologista Evelyn de Oliveira ressalta que para ser um doador é necessário ter entre 18 e 55 anos de idade. “Ele passa por uma avaliação de saúde com entrevista, exame de sangue para poder caracterizar que ele tem condições clínicas, condições físicas e saúde para que não seja prejudicial para ele e nem para a pessoa que vai receber essa medula óssea. Então, ele não pode ter nenhuma doença infecciosa, não pode ter nenhuma doença que possa prejudicar ele durante o procedimento e deve ter compatibilidade com uma pessoa que está precisando e a partir daí vai fazer uma avaliação”.

De acordo com a responsável pela Captação de Doadores de Medula Óssea do Hemocentro Coordenador, Lucéia Maria Fernandes a chance de uma pessoa sem parentesco ser compatível é de um em cem mil no Brasil e de um em um milhão no mundo. Ela afirma que é essencial que o cadastrado esteja presente até a última etapa da doação. Para Lucéia Fernandes, a falta de informação e o medo são as principais causas de desistência. “As pessoas que fazem o cadastro não têm muita informação, não sabem diferenciar o que é medula óssea, da medula espinhal. Ela acha que pode mexer na coluna e ter risco de ficar com sequelas físicas. Acha também que quando ela faz o cadastro, que é preencher a ficha e coletar a amostra de sangue, acha que isso já é doação e quando acontece de ser compatível, que a gente liga e convida para fazer a doação, ela se assusta”.

A hematologista Evelyn de Oliveira ressalva que, após o cadastro de doação e comprovada a compatibilidade com o paciente, o doador é convocado para um processo de análise da faixa etária, da condição atual de sua saúde e se realizou todos os exames necessários. A médica explica que os processos de captação da medula ocorrem em duas formas. “Alguns transplantes de medula óssea tem a captação através do próprio do sangue periférico, do sangue da veia, então pode ser feito por um processo de aférese. Outros são feitos através da coleta da própria medula óssea que está dentro do osso através da pulsão de uma quantidade de medula suficiente para fazer a doação”.

Segundo Lucéia Fernandes, 75 pessoas efetuaram doações compatíveis em Mato Grosso do Sul. “O ano passado nós tivemos 12 pessoas que foram compatíveis e disseram não e só este ano já foram cinco, por isso que a gente fala muito na questão do compromisso de quando você faz esse cadastro. Da responsabilidade de quanto isso é importante para quem espera”.

Lucéia Fernandes ressalta que doador cadastrado precisa manter os dados atualizados. “Telefone e endereço atualizado, porque nós temos tido muitas compatibilidades em que as pessoas não estão sendo localizadas, às vezes, mudou de estado, mudou de país. Isso não impede de nós localizarmos, mas demora um pouco mais e às vezes o paciente não tem esse tempo para esperar. Então, uma das coisas mais importantes é a responsabilidade com esse cadastro e também manter atualizado o telefone, o endereço para que ele seja localizado com facilidade em caso de compatibilidade”.

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