QUEIMADAS

Mato Grosso do Sul registra aumento de 229% de focos de queimadas

Aumento de focos de queimadas e baixa umidade favorecem o surgimento e complicação de doenças respiratórias

Jean Celso, Jhayne Lima e Leticia Marquine23/09/2018 - 19h19
Compartilhe:

Mato Grosso do Sul registrou 1.344 focos ativos de queimadas no terceiro trimestre deste ano, de acordo com dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse número representa um aumento de 229% em relação ao primeiro semestre de 2018, que registrou o total de 585 focos ativos. Os registros diminuíram 55% em relação ao mesmo período de 2017. Os focos de incêndios aliados à baixa umidade do ar são responsáveis por causar complicações de doenças respiratórias alérgicas e infecciosas.

De acordo com dados divulgados pelo Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas, a umidade do ar recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de, no mínimo, 60%. Quando a umidade varia entre 20 e 30% é declarado estado de atenção, entre 12 e 19% estado de alerta e abaixo de 12% estado de emergência. O analista ambiental do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), Alexandre Pereira explica que com a diminuição da umidade relativa do ar, aumento das temperaturas e condições de vento, a propagação de incêndio é mais comum. “Quando as pessoas utilizam fogo para qualquer atividade, seja atividade pecuária ou agrícola, nessa época do ano, a propagação desse fogo se torna muito intensa e o controle desse fogo é muito difícil justamente por essas condições favoráveis como a baixa umidade do ar”.

 Elaborado por Leticia Marquine

O pneumologista Henrique de Brito afirma que as queimadas afetam diretamente o sistema respiratório porque interferem na qualidade do ar e dificultam a entrega do oxigênio às células do corpo. São desencadeadas doenças como sinusite, rinite, asma, tosse crônica, pneumonia, gripe e resfriado. “Nosso sistema respiratório faz uma proteção, evitando que microrganismos, seja bactérias, vírus ou fungos consigam chegar nos pulmões, acontece que quando estamos com a umidade do ar baixa, a defesa que começa nas mucosas que estão ressecadas fica reduzida então nosso organismo fica mais vulnerável à ação desses microrganismos, então aumenta bastante as taxas de infecções respiratórias”.

Segundo a otorrinolaringologista Neisa Alves, os atendimentos relacionados aos problemas respiratórios chegam a aumentar 40% nos meses de julho, agosto e setembro, quando a umidade relativa do ar varia entre 20 a 60% em Campo Grande. A médica afirma que as pessoas sentem mais fadiga, irritação no nariz, crise alérgica e sangramento nasal nesta época do ano. “Como a mucosa do nariz fica muito irritada, os vasos sanguíneos dentro do nariz ficam mais sensíveis e aí podem acontecer o que chamamos de epistaxe, que são os sangramentos nasais, às vezes espontâneos e às vezes de grande volume”.

O tratamento das doenças deve ser individualizado assim que feito o diagnóstico e é importante evitar a automedicação, pois os medicamentos podem simular os sintomas e confundir os médicos na realização dos diagnósticos. Mesmo que algumas doenças apresentem os mesmos sintomas, o tratamento é diferenciado. Neisa Alves explica que ainda existe falta de informação e consciência entre a população sobre os problemas respiratórios existentes. “Os pacientes chamam todos os problemas de nariz de sinusite, mas a gente sabe que não é exatamente isso. É preciso ver se realmente se é uma sinusite infecciosa, se é um quadro de crise alérgica, porque o tratamento muda um pouco de acordo com o caso”.


A Secretaria de Estado do Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia (Semade) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama/MS) aprovaram resolução conjunta, publicada em agosto de 2014, que proíbe a realização de queima controlada no território de Mato Grosso do Sul no período de 1° de agosto até 30 de setembro. Nas áreas do Bioma Pantanal, o período de proibição é estendido até 31 de outubro.

   Alexandre Pereira associa queimadas à ação humana
   (Foto: Jhayne Lima)

A resolução regulamenta a proibição de incêndios florestais no estado na época de seca. De acordo com o analista ambiental do Prevfogo, Alexandre Pereira 98% dos incêndios florestais são provenientes de ações humanas, seja por negligência, acidental, ocasional ou criminosa. “O uso do fogo no Pantanal é feito para renovação de pastagem, então cerca de 80% dos incêndios são provocados com esse objetivo”.

O Prevfogo é um centro especializado do Ibama que trabalha especificamente com prevenção e combate de incêndios florestais e também com o manejo do fogo em todo o território federal. O centro realiza treinamento, orientação e capacitação, principalmente para produtores rurais, sobre os riscos referentes ao fogo. Também são realizadas ações de educação ambiental em escolas, onde são apresentados os problemas ambientais que o fogo pode causar e a importância da preservação do meio ambiente. 

   Corpo de Bombeiros prepara-se para época de queimadas
   (Foto: Jean Celso)

O subtenente do Centro de Proteção Ambiental (CPA)  do Corpo de Bombeiro Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS), Santiago Silva Júnior explica que os militares do estado realizam treinamentos antes do período de aumento de queimadas para que a equipe esteja preparada para o combate quando solicitado. Além dos treinamentos desenvolvidos para a equipe do Corpo de Bombeiros, também são realizados treinamentos para o público externo. “Fazemos esse treinamento para quem nos solicita, de acordo com o tempo hábil. Temos o apoio da Defesa Civil e de órgãos da prefeitura na realização de treinamento nesse sentido”.

Compartilhe:

Deixe seu Comentário

Leia Também