Mato Grosso do Sul registrou 160 óbitos hospitalares de crianças com até um ano de idade entre janeiro e julho de 2018, segundo dados do Ministério da Saúde. O número corresponde a 67,22% do total de mortes em 2017, que somou 238 óbitos de bebês internados em alguma instalação do Sistema Único de Saúde (SUS). O mês com maior incidência foi maio com 33 falecimentos. Destes casos, 17 ocorreram em Campo Grande.
De acordo com dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), em 2015 foram 531 bebês mortos. Em 2016, foram 548 óbitos de crianças com até um ano de idade, 17 casos a mais do que no ano anterior. Segundo o índice de morbidade do SUS, deste total, 303 bebês morreram enquanto estavam internados em ambientes hospitalares e 17,82% tinham apenas um mês de vida.
O médico obstetra Márcio Alexandre Rezende aponta que a principal causa para o óbito neonatal é a prematuridade, resultado de doenças durante a gestação. “Rompimento da bolsa com aproximadamente 34 semanas, doença hipertensiva que não pode ser controlada e pode evoluir para pré-eclâmpsia ou eclâmpsia, um diabetes descompensado. São causas que fazem com que o bebê nasça prematuro, que faz com que aumente o número de mortes neonatal”.
Rezende ressalta a importância da gestante realizar o pré-natal para diagnosticar algum problema na gravidez e diminuir o índice de prematuridade e a morte neonatal. O obstetra afirma que numa cesariana a gestação pode ser avaliada como de 39 semanas e ter apenas 37. Rezendo afirma que neste caso o bebê pode nascer com algum desconforto respiratório e o parto normal, mesmo que prematuro, é a melhor opção para a mãe e seu bebê.
Conforme publicação do Ministério da Saúde, o pré-natal deve ter início desde a confirmação da gravidez, que pode ser feita por meio de um teste rápido e gratuito em qualquer Unidade Básica de Saúde. A gestante passa a ser acompanhada por um médico e recebe orientações para a gestação. Nas consultas são realizados exames como hemograma completo, tipagem sanguínea e ultrassom, além das vacinas que devem estar em dia. No caso de gestantes com atrasos vacinais será preciso tomar as doses indicadas na Cartilha de Vacinas, são três doses contra a hepatite B, contra difteria e tétano. Durante toda a gestação são recomendadas, no mínimo, seis consultas de pré-natal.
A enfermeira Bárbara Santos afirma que recém-nascidos exigem uma preparação do ambiente com instrumentos e equipe adequada, principalmente em casos de prematuros. “A gente sabe que vai recepcionar um prematuro, a gente precisa avisar a equipe, o neonatal e ter vaga na unidade, porque o cuidado dele é intensivo. A gente precisa preparar a equipe, a sala e os materiais que vamos usar. Muitas vezes, deixamos todo o material de intubação e se precisar de ventilação mecânica, tudo no ponto certo”.
A enfermeira explica que os procedimentos realizados na unidade hospitalar Santa Casa de Campo Grande, quando um bebê nasce morto ou morre após o nascimento, ocorrem de forma humanizada. “Primeiro passo, quando a gente se depara com o óbito fetal, a gente aciona a equipe do hospital. Depois a psicologia e o serviço social são acionados, que junto com a equipe dão a noticiam para a mãe. Ela tem o direito de ver, de segurar e tem o direito de quanto tempo ela quiser ficar naquele momento ali, em alguns óbitos, já aconteceu da mãe ficar 30 minutos. É o momento dela com ele”.

Em Campo Grande ocorreram 17 óbitos de bebês em maio de 2018
(Foto: Dândara Genelhú)
A estudante Débora Lima ficou grávida pela primeira vez aos 21 anos e fez todos os exames de rotina e pré-natal em rede de saúde privada. Com oito meses de gestação, ela sofreu um descolamento na placenta durante a madrugada e foi para a maternidade pública onde sua médica fazia plantão. “Eu fiz a cesariana pelo SUS, porque minha médica estava de plantão e minha filha nasceu bem, chorou ao nascer. Porém por ser prematura de oito meses, ela necessitava de uma UTI neonatal”.
Débora Lima explica que sua filha precisava ser internada em uma incubadora e fazer o uso de aparelho respiratório, pois no oitavo mês de gestação o pulmão de uma criança ainda está em fase de formação. Ela afirma que, devido à falta deste tipo de leito na maternidade e a indisponibilidade de vagas em outros hospitais, sua filha ficou internada em uma incubadora improvisada na sala de parto. “No terceiro dia minha filha veio a falecer, ela morreu por infecção hospitalar, porque ela estava sujeita a isto. Deu uma pneumonia nela por conta da falta do respirador que ela precisava”.