Mato Grosso do Sul tem o oitavo maior índice de negativas de doação de órgãos do Brasil, de acordo com dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). O levantamento aponta que, em 2017, foram realizadas 133 entrevistas com familiares de possíveis doadores e que deste número 76 desautorizaram a doação, o que representa 57% de negativa. O percentual está acima do registrado na região Centro-Oeste (53%) e no Brasil (42%).

(Foto: Gabriela Santos)
De acordo com o enfermeiro e integrante da Organização de Procura de Órgãos (Opo) da Santa Casa de Campo Grande, Rodrigo Gomes o desconhecimento do processo de doação é a maior causa das recusas. “Quando nós fazemos as entrevistas percebemos que as famílias não têm informações, não sabem como funciona. Existe muito tabu ligado à doação de órgãos”. O enfermeiro aponta que a manifestação em vida do desejo de doar órgãos também é fator importante para a decisão dos familiares. “Às vezes a pessoa até era doadora, mas como ela nunca falou a família recua”.
A lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, indica que a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica depende da autorização do cônjuge ou parente maior de idade que obedeça à linha sucessória até o segundo grau.
A doação pode ser de órgãos como rim, fígado, coração, pâncreas e pulmão ou de tecidos como córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem, medula óssea e sangue de cordão umbilical. O rim, parte do fígado e da medula óssea podem ser doados em vida. A doação de órgãos de pessoas falecidas é realizada depois da confirmação do diagnóstico de morte encefálica.
Mato Grosso do Sul possui uma central que é responsável por gerenciar as atividades relacionadas à doação e transplantes. A coordenadora da Central Estadual de Transplantes de Mato Grosso do Sul (CET-MS), Claire Miozzo explica que a Central é a única responsável pelo processo no estado. “Nós pertencemos ao organograma da Secretaria do Estado de Saúde e somos responsáveis por coordenar todas as atividades de transplante no âmbito estadual. Se acontecer uma doação, por exemplo, em Três Lagoas, Dourados, Ponta Porã, Corumbá, tudo é gerenciado por nós aqui em Campo Grande”. A CET-MS é quem gerencia a fila de espera estadual. Claire Miozzo afirma que, para os profissionais da área, a negativa familiar é frustrante e impacta diretamente na fila de espera.