ALIMENTAÇÃO

Lei proíbe venda de alimentos prejudiciais em escolas

Norma tem como objetivo prover a alimentação saudável no ambiente escolar

Juliana Peruchi Marra e Maitê Campos14/10/2014 - 15h20
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A lei municipal da cantina saudável entra em vigor para todas as escolas públicas e particulares em Campo Grande, depois que a Federação do Comércio de Mato Grosso do Sul, Fecomércio-MS, propôs uma  Ação Direta de Inconstitucionalidade. Ela proíbe a venda de balas, pirulitos, gomas de mascar, biscoitos recheados, refrigerantes e sucos artificiais, salgadinhos industrializados, frituras, pipoca industrializada, bebidas alcoólicas, alimentos industrializados cujo percentual de calorias da gordura saturada ultrapasse 10% das calorias totais ou que na preparação seja utilizada gordura vegetal hidrogenada. Os donos das cantinas têm até novembro para se adaptar às novas normas.

A nutricionista Thayana Grance alerta para os riscos que esses tipos de alimentos trazem à saúde. “Alimentos industrializados como salgadinhos, refrigerantes, sucos, doces, dentre outros, possuem grande quantidade de sal, açúcar e gordura em sua composição além de aditivos alimentares sintéticos. Esses nutrientes quando consumidos em excesso ou frequentemente levam a um consumo energético, calorias, maior que a necessidade diária e predispõe ao desenvolvimento de doenças crônicas como hipertensão, obesidade e diabetes”.

Thayana Grance dá opções para donos de cantinas se adequarem à lei, “podem comercializar frutas da estação in natura, na forma de sucos ou salada de frutas; salgados assados, tortas e lanches com recheio a base de carne bovina, frango, peixe, queijo e hortaliças, (verduras e legumes); iogurtes; bolos simples como de cenoura ou fubá; flocos de milho e cereais integrais como granola; e, outros alimentos nutritivos e pouco processados que ajudem a promover e manter bons hábitos alimentares”.

Segundo a nutricionista a escola tem um papel importante na construção de um comportamento saudável. “O ambiente escolar é ideal para a aprendizagem e desenvolvimento de hábitos que a criança terá em sua vida. Assim, a alimentação escolar deve promover o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis por meio da educação alimentar e nutricional e oferta de alimentos saudáveis, adequados, compreendendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e  os hábitos alimentares saudáveis, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento dos alunos e para a melhoria do rendimento escolar”. 

O dono da cantina da Escola Estadual Lúcia Martins Coelho, há dez anos, Francisco Rodrigo Farias, acredita que as vendas vão cair e que terá que adequar os produtos comercializados. “A venda vai cair com certeza, porque você está tirando produtos de dentro da cantina que giram rápidos. É lei e eu vou ter que me adequar porque eu estou dentro do espaço do governo, mas acho que não vai resolver muito não. Por exemplo, esses alunos vêm para a escola de ônibus e nos terminais vendem até cigarro. A minha parte eu vou fazer, o que é lei é lei”.

A lei divide a opinião entre os estudantes. A aluna Evelyn Dias, de 15 anos, não concorda com a proibição. “Eu acho errado, eu mesmo não almoço em casa, aí eu lancho aqui na escola e como salgado. Bom não é, mas é gostoso, não tem como evitar. Não é bom pra saúde, mas não devia tirar esses alimentos, cada um cuida da sua saúde e come o que quer”.

A estudante Maria Clara Alcanfôr, de 17 anos, aprova a ideia de criar hábitos saudáveis na escola. “A maioria dos alunos acha que é errado, isso de regular a comida, mas eles não veem que isso é criar hábitos e uma rotina, não acostumando com as coisas que fazem mal. Se não tiver porcaria, vamos ter que pegar uma coisa saudável e isso querendo ou não acostuma a pessoa não comer coisa ruim. É um incentivo para que a gente tenha a oportunidade de criar uma rotina alimentar saudável, facilitando muito em continuar com esses hábitos fora do âmbito escolar. Eu particularmente vou gostar”.

A nutricionista explica que é importante a conscientização da criança e do adolescente para a ingestão de alimentos saudáveis e as implicações que maus hábitos alimentares podem causar a saúde. “A infância é uma fase da vida onde os indivíduos desenvolvem hábitos e preferências que tendem a manter durante a vida adulta. Além disso, diversas doenças crônicas têm as raízes de seu desenvolvimento na infância. Assim, para se ter adultos saudáveis deve-se formar bons hábitos saudáveis na infância”.

Thayana Grance acredita que o papel das cantinas nas escolas deve ser modificado. “Os espaços são, na maioria das vezes, alugados por um comerciante que precisa, obviamente, que este seja um negócio rentável. Assim, acredito que a prioridade seja rever o papel da cantina dentro da escola que não deve ser lucro financeiro. Para se ter uma cantina saudável o compromisso primordial deve ser a educação (alimentar e nutricional) e a saúde de seus alunos e, para isso, é necessário o envolvimento da comunidade escolar que inclui professores, alunos, pais e funcionários”.

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