SAÚDE

Mato Grosso do Sul é o estado com maior consumo de produtos derivados do tabaco

Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar realizada em 2015 aponta que em Mato Grosso do Sul 13,9% consomem produtos originados do tabaco, dentre eles o narguilé

Fernanda Venditte, Julia Renó e Mara Machado11/09/2018 - 02h30
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Campo Grande é a segunda capital com a maior porcentagem de consumo de produtos derivados do tabaco do Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, de 2015. De acordo com o estudo, o consumo desses produtos é mais intenso nas regiões Centro-Oeste com 10,0% e Sul 9,6%, e nos estados de Mato Grosso do Sul 13,9% e Paraná 13,8%. O documento, elaborado após pesquisa com estudantes de escolas brasileiras da rede pública e particular, indica também que o consumo de narguilé no Brasil aumentou entre adolescentes e apontou que, em 2015, 9% dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental utilizaram este instrumento para fumar.

O narguilé é um tipo de cachimbo de água, originado no oriente, usado para consumir tabaco aromatizado. Além deste nome, é chamado de arguile, xixa ou hookah. O consumo de narguilé é prejudicial à saúde. De acordo com o pneumologista e atual presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Mato Grosso do Sul, Henrique Brito apenas 5% das impurezas da fumaça são filtradas pela água. 

Brito afirma que o consumo de narguilé por uma hora equivale a 100 cigarros. O médico alerta sobre as consequências do uso desta espécie de cachimbo oriental. “O primeiro mal que causa ao adolescente ou qualquer pessoa é o vício. Ele possui mais de quatro mil substâncias que podem trazer doenças a curto, médio e longo prazo. Mas as principais doenças são as cardiovasculares, o paciente pode ter problemas de pressão, arritmia, problema de coronárias, quadros alérgicos como a asma e bronquite, até potenciais mais graves como enfisema pulmonar. Além disso, pode causar doenças vasculares e cancerígenas”.

Segundo pesquisa do sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde realizada com maiores de 18 anos, nas capitais brasileiras, há uma propensão ao aumento de tabagismo na faixa etária mais jovem até os 24 anos. De acordo com o estudo, entre os homens, Campo Grande é a terceira capital com maior frequência de fumantes passivos no trabalho, com 12,9%. O pneumologista Henrique Brito afirma que o narguilé pode influenciar o jovem consumidor a ser um fumante. Para ele, assim como o cigarro, o fumante passivo ingere os componentes tóxicos presentes na fumaça do tabaco da mesma forma que o fumante ativo.

Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou em julho deste ano o Projeto de Lei 4431/16, que impede a comercialização de cachimbos, narguilés, piteiras, papéis para enrolar cigarro e outros produtos relacionados ao consumo do tabaco à crianças e adolescentes. O projeto altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para incluir a proibição do comércio deste tipo de mercadoria.

Para a psicóloga Alexandra Anache o uso aumenta entre os jovens, porque proporciona bem-estar e um ambiente social de descontração. “O cheiro das essências usadas no narguilé é um convite para reunir às pessoas em uma roda de amigos para passar o tempo, conversar e se torna um jeito mais elegante de fumar. O narguilé expõe a pessoa a um período longo de contato com a nicotina. Exemplo, se em uma roda de conversa a pessoa gastar mais ou menos duas horas, vai fumar muito mais tabaco do que se fumasse cigarros. Enquanto um cigarro leva de cinco a sete minutos para acabar, o encontro de narguilé dura de 20 a 80 minutos e pode render entre 50 e 200 baforadas, portanto se torna um vício muito pernicioso para saúde”.

O auxiliar de marceneiro Daniel Moreti, 18, começou a fumar narguilé há quatros anos como forma de socialização. “Meus amigos fumavam e eu senti vontade de experimentar, ver como era, gostei do sabor que tinha e continuei”. Moreti ainda diz que consome em festas, nas reuniões com os amigos e até mesmo sozinho.

O proprietário de tabacaria de Campo Grande, Guibson Lima aliou o gosto pelo narguilé e a oportunidade de lucro com o produto. “Veio a ideia de abrir a tabacaria, pela questão de eu já ser muito adepto ao narguilé. Já fazia muito tempo que eu fumava, decidi unir o útil ao agradável, o que eu gostava de fazer e meu trabalho”. Lima ainda afirma que “atende mais ao público dos 18 aos 22 e 23 anos”. O gestor considera que a tabacaria agrega todo tipo de público, pessoas de 40, 50 anos também frequentam e até adolescentes de 16 anos que vão acompanhados dos pais.

A professora de enfermagem Priscila Marcheti ressalta que o mais preocupante para os profissionais da saúde é a diminuição da idade das pessoas que consomem narguilé. “Antes a gente observava mais jovens ou adultos jovens fazendo o uso, hoje a gente percebe muitos adolescentes e até crianças que fazem uso desta substância, justamente por ser um comportamento familiar, de fim de tarde ou de finais de semana”.

O pneumologista Henrique Brito explica que o compartilhamento do narguilé também pode transmitir doenças. "Existem outras doenças que podem ser transmitidas pelo contato da boca, da saliva e secreções respiratórias entre as pessoas que usam o mesmo aparelho. Doenças como resfriado, gripe, herpes, hepatites. Essas são as principais doenças, outras virais, a mononucleose pode acometer também”.

Além do narguilé, outro objeto fumígeno está em uso pelos jovens, o vape eletrônico. O usuário de narguilé Daniel Moreti comenta que também usa o objeto pela praticidade. "Nem todo lugar você consegue levar um narguilé, já o vape é fácil para levar, é só colocar no bolso e levar onde quiser. É uma coisa mais individual”.

O médico Henrique Brito afirma que qualquer tipo de cigarro eletrônico é prejudicial à saúde. “Não tem estudos ainda para dimensionar, mas o que se tem, que faz muito mal, o cigarro eletrônico é um pouco mais antigo, aquela bateria libera algumas substâncias cancerígenas, entre elas o formaldeído, o próprio cádmio, níquel, substâncias que são lesivas, tóxicas e podem causar câncer”. Brito ressalva que outros tipos de piteiras eletrônicas devem ser desmotivadas pelos riscos à saúde. “Como profissional da saúde, a gente contraindica, alerta que o narguilé e qualquer forma de consumo de tabaco faz muito mal”.

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