ALIMENTAÇÃO

Consumo de alimentos orgânicos cresce em Campo Grande

Demanda de produtos orgânicos promoveu aumento de renda das famílias e melhoria nas condições de saúde dos agricultores

Bruna Fioroni e Laura Fagundes26/05/2015 - 15h43
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O cultivo de produtos orgânicos cresceu em média 20% a 25% em Campo Grande. No Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, a produção aumenta de 15% a 20% por ano. A agricultura orgânica viabiliza a sustentabilidade da agricultura familiar e o desafio dos produtores é aumentar a produtividade e a oferta dos alimentos orgânicos para a população. O crescimento é decorrente do apoio para os produtores da agricultura familiar do projeto de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais), implantado em 2008. Em Mato Grosso do Sul, o projeto foi realizado em parceria entre o Sistema Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) e a Fundação Banco do Brasil, com o compromisso de investir em um sistema de melhoria para os pequenos produtores e estimular o processo de produção orgânica no município.

Convênio firmado entre a Prefeitura de Campo Grande e o Ministério da Agricultura, em 2009 possibilitou a instalação da Feira de Orgânicos na Praça do Rádio Clube. A feira é organizada pela Cooperativa dos Produtores Orgânicos da Agricultura Familiar de Campo Grande (Organocoop), surgida a partir do projeto Pais.

O presidente da Organocoop, Vanderlei Azambuja Fernandes, explica que o sistema Pais proporcionou um aumento de renda às famílias por meio do incentivo à produção e a comercialização. "Foi aí que surgiu a 'feirinha' e deu certo, hoje com seis anos. Nós somos produtores orgânicos certificados, então pra manter a certificação, nós organizamos a cooperativa". Fernandes revela que além da Feira de Orgânicos, os produtos da Organocoop são vendidos para instituições do governo, como Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento e Educação (FNDE), para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

Vanderlei Fernandes comenta que a maioria dos clientes da feira são fixos

A Organocoop hoje é formada por 62 cooperados. Fernandes, que também é produtor, diz que a procura pelos alimentos orgânicos na Capital aumentou nos últimos anos. "O pessoal que faz a feira está precisando aumentar a produção. A procura vem aumentando cada dia mais, a cultura de Campo Grande com os orgânicos cresceu muito, vem crescendo em média 20% a 25% ao ano."

As unidades do sistema Pais são doadas aos produtores sem custo. Toda a implantação do sistema é feita com auxílio técnico de agrônomos e a produção é sustentável.

O alimento orgânico é isento de insumos artificiais, como os adubos químicos e os agrotóxicos. Segundo o engenheiro agrônomo Eduardo Mustafa, o agricultor orgânico trabalha com insumos mais caros e a hortaliça fica mais tempo na terra. O custo para o agricultor pode ser até 40% mais caro, a lucratividade também tende a ser mais alta. O custo do orgânico para o consumidor é, em média, 250% mais caro que o alimento tradicional.

O agricultor José Roberto de Oliveira trabalha em um lote no assentamento Conquista, localizado na MS-080, saída para Rochedo, e é um dos cooperados da Organocoop que trabalha na Feira de Orgânicos. Ele afirma que "a qualidade de vida melhorou com a ajuda que a gente recebeu do sistema Pais, e também agora não trabalho mais com veneno". Destaca que a clientela fixa também aumentou. "Tem gente que procura bem cedo, pede pra guardar as frutas e as verduras".

O agricultor e feirante Gedimar Aragão diz que a produção é mais difícil e mais cara e vale a pena. "No começo demora uns três anos pra dar resultado, mas vai melhorando, a terra fica melhor, a qualidade da plantação também". Aragão deixou de trabalhar com agrotóxicos há dez anos e reforça que melhorou sua condição de saúde. "O agrotóxico é pesado, dava muita queimação no olho, ardência na pele. Mesmo usando a roupa, tem o contato. Dor de cabeça também dava todo dia. Hoje é outra coisa, ainda mais que minha horta é em volta da minha casa, morar no meio do veneno é muito complicado".

O casal Ademir Oliveira e Aparecida dos Santos sempre trabalharam com agricultura e comercializaram nas feiras. Há seis anos mudaram para a produção orgânica. Aparecida dos Santos considera a produção mais saudável. "A gente sempre aprende tudo, sempre que tem um curso, ele vai ou eu vou. Aprendemos a fazer calda de pimenta, de mamona, várias coisas. As folhas das árvores do quintal eu também vou juntando, aí uso pra proteção, resto das verduras também".

O engenheiro agrônomo Eduardo Mustafa explica que a produção orgânica respeita o meio ambiente e evita a contaminação do solo, da água e da vegetação. Além disso, há valorização da mão-de-obra, com a obrigatoriedade da carteira assinada.

A nutricionista Rafaela Stefani esclarece que o principal benefício dos alimentos orgânicos é o maior teor de nutrientes que possuem. "São alimentos mais nutritivos e saudáveis, além de mais saborosos. Por esse motivo, vão prevenir alguns tipos de doenças e aumentar a qualidade de vida, logo o consumo de medicamentos também podem ser diminuído. Alguns estudos relacionam o consumo excessivo de agrotóxicos com doenças como o câncer, Parkinson, dermatoses, alergias e doenças respiratórias". Rafaela Stefani também explica que, como o teor de vitaminas nesses alimentos são maiores, os suplementos vitamínicos podem ser evitados e substituídos pelos próprios alimentos orgânicos.

A dona de casa Maria de Lurdes mudou-se para Campo Grande e é frequentadora da Feira de Orgânicos. "Quando tem, eu sempre dou preferência. Sempre incentivo minhas filhas e minhas netas. É mais qualidade de vida". Maria de Lurdes também diz que os alimentos são mais frescos e saborosos. "As hortaliças e as verduras são muito delicadas, então às vezes vem de fora e a viagem já prejudica. Aqui é tudo da região. Eu gosto muito de comprar na feira, não troco por nada".

O presidente da Organocoop reclama da falta de incentivo no Estado. "Os agricultores estão com dificuldades. A busca aumentou e a gente precisa aumentar e melhorar a produção. O orgânico precisa de acompanhamento técnico e certificação, então se não investir na tecnologia, fica complicado". Segundo ele, a redução do número de comerciantes na feira é um sinal das dificuldades da agricultura familiar orgânica. No início havia 25 barracas, atualmente a Feira de Orgânicos possui entre 102.

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