CAMPANHA DE VACINAÇÃO

Vacinação contra a gripe fica abaixo da meta em Mato Grosso do Sul

As doses que sobrarem devem ser aplicadas em crianças de cinco a nove anos de idade e adultos de 50 a 59 anos após o fim da campanha

Adrian Albuquerque, Gabriela Coniutti e Lucas Castro11/06/2018 - 23h09
Compartilhe:

A campanha de vacinação contra a gripe ficou abaixo da meta em Mato Grosso do Sul. No total, 479.330 pessoas foram imunizadas contra a gripe até o dia 6 de junho no estado. A Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul (SES/MS) tem como meta vacinar 663.656 pessoas, 90% dos integrantes do grupo de risco no estado até o final da 20ª Campanha Nacional de Vacinação Contra a Influenza. De acordo com último Boletim Epidemiológico de Influenza divulgado pela SES/MS, até o momento 15 óbitos por gripe foram confirmados no estado, mais que o dobro registrado do ano passado.

A campanha que teve início no dia 24 de abril e que encerrou no 1º de junho, foi prorrogada pelo Ministério da Saúde até o dia 15 de junho, devido a paralisação dos caminhoneiros, que resultou no desabastecimento de combustível e na suspensão do transporte público, o que impossibilitou a população no acesso às unidades de saúde. Após o fim da campanha, as doses que sobrarem devem ser aplicadas em crianças de cinco a nove anos de idade e adultos de 50 a 59 anos.

Em Mato Grosso do Sul são 737.395 pessoas no grupo de risco, que inclui crianças de seis meses a menores de cinco anos, gestantes, mulheres que deram à luz recentemente, professores, profissionais da saúde, indígenas, indivíduos com 60 anos ou mais, adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas, população privada de liberdade, funcionários do sistema prisional, pessoas com doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais independente da idade. De acordo com orientações do Ministério da Saúde, o público prioritário é escolhido ao levar em consideração as pessoas com mais chances de desenvolverem complicações ou até mesmo morrerem a partir da infecção pelo vírus da gripe. Os critérios são estabelecidos por meio da investigação do perfil dos casos graves e dos casos de óbito por gripe.

De acordo com a gerente técnica de doenças endêmicas da SES/MS, Lívia Mello a resistência à vacinação geralmente têm implicações econômicas e culturais. “Se a pessoa não estiver no grupo prioritário, ela irá procurar unidades particulares e isso tem um custo. As pessoas que não se vacinam, normalmente, não estão no grupo prioritário e as que estão no grupo e não se vacinam a gente não entende muito qual a razão, porque tem a vacina disponível na rede pública e acaba por não procurar por falta de conhecimento mesmo”.

A gerente técnica ressalta que a vacina ainda é estigmatizada e, devido a isso, gera uma resistência da sociedade ao procurar a prevenção. "Muita gente acha que ao tomar a vacina, logo vai ter gripe, desenvolver a doença. O que acontece é que pessoa pode estar exposto, como nós estamos nesse período do ano, à circulação de vírus respiratórios e com imunidade debilitada ou, por ter tomado a vacina, teve uma diminuição da sua imunidade e está em ambientes que têm a circulação do vírus. Porém, a vacina não assegura que a pessoa não terá gripe, ela garante a não infecção pela influenza desses três subtipos (H1N1, H3N2, Influenza B) que compõem a substância da vacina".

Lívia Mello ressalva que a principal consequência do descumprimento da meta estabelecida para a campanha de vacinação é a redução do quantitativo de doses repassadas pelo Ministério da Saúde no ano seguinte. “Terá uma redução na remessa enviada para a campanha de vacinação contra a gripe no ano que vem, porque o Ministério Público não irá enviar doses para sobrar. Então, se o estado não utiliza aquele quantitativo que eles enviam, tende a diminuir o número de doses e acredito que isso é prejudicial, porque uma pessoa que não procurou a vacinação esse ano, pode se conscientizar e procurar no ano que vem, só que não haverá mais o número suficiente de doses disponíveis”. 

Em Campo Grande, a Secretaria Municipal de Saúde Pública (SESAU) tem como objetivo imunizar, aproximadamente, 197.870 pessoas até o dia 15 de junho, 90% do grupo de risco. De acordo com dados do Boletim de Vacinação de Influenza 2018 da Sesau, até o dia 8 de junho foram vacinadas 168.334 pessoas, o que representa 85,09% do público prioritário. 

   Para Mariah Barros, cobertura vacinal em gestantes é preocupante
   (Foto: Lucas Castro)

Segundo a coordenadora de Vigilância Epidemiológica (CVE) da SESAU, Mariah Barros muitas pessoas ainda têm medo de tomar a vacina contra a gripe, fator de diminuição na procura pela imunização nas unidades de saúde. “Infelizmente, algumas pessoas têm medo e dizem que é uma vacina para matar os velhos, a gente ainda escuta esse tipo de colocação. Outras pessoas alegam que tomaram a vacina e ficaram gripadas, o que também é uma inverdade, porque ele ficou gripado por outro vírus, não pelo influenza. Isso tudo contribui para que essas pessoas deixem de se vacinar. Nós temos também uma parte da população também que utiliza o serviço particular e não temos o controle dessas vacinas disponibilizadas”.

Mariah Barros afirma que a maioria dos óbitos de influenza são de pessoas que têm uma patologia de base. “Normalmente, as pessoas que morrem, tinham uma doença, que se agravou com a infecção pelo influenza. Então, por isso que é importante que esse grupo vulnerável, eleito pelo Ministério da Saúde, faça a vacinação, porque quando a gente vai investigar um óbito, a gente vê que ele faz parte de um grupo daqueles. Então, isso é extremamente preocupante. Ou seja, uma morte que poderia ter sido evitada. Nesse ano, vimos mais o óbito por H3N2, que segue o mesmo padrão da Europa e dos Estados Unidos, pois no inverno deles houve epidemia de Influenza e muitos óbitos confirmados em H3N2. Aqui no Brasil se repete”.

A responsável técnica de uma clínica particular de vacinação em Campo Grande, Déborah Faraco ressalta que vacina da gripe comercializada pela rede privada é quadrivalente. “Ela protege contra quatro tipos de gripe: H1N1, H3N2, Influenza B (linhagem Yamagata e Victoria). É feita uma análise dos vírus que passam no Hemisfério Norte, nos outros países no ano anterior. Então, os vírus que mais circulam no ano anterior são combatidos pela vacina da gripe no ano atual e por isso a vacina deve ser tomada anualmente, não existe uma vacina definitiva, todo ano há uma diferença por conta da mutação desses vírus. A vacina da rede pública é trivalente, não protege contra todos os tipos, mas é imprescindível tomar”. 

   Segundo Déborah Faraco, reações adversas à vacina são raras
   (Foto: Lucas Castro)

Déborah Faraco afirma que a vacina demora de 10 a 15 dias para produzir os anticorpos no organismo humano. “Depois dos 15 dias que a pessoa tomou a vacina é que o corpo vai estar mais resistente à infecção. Por isso, deve ter também todo um cuidado armazenamento, porque a temperatura da vacina varia de dois a oito graus. Se uma vacina ficar abaixo de dois graus, ela congela e acima de oito graus é um ‘picolé derretido’, como a gente costuma dizer. Então, quando há essas situações, ela perde a imunogenicidade, a capacidade de fazer o corpo, a grosso modo, produzir os anticorpos”. 

A vacina dificilmente costuma ter reações adversas. Débora Faraco ressalta que, em casos raros, quem tomou a vacina ficou num estado gripal. “A pessoa pode apresentar coriza nasal, um pouco de dor de cabeça e febre, mas nada com o que se preocupar. Uma dor no local da injeção pode ocorrer horas após a aplicação vacinal e perdurar até o dia seguinte, o que é normal. Por isso, é recomendado que a pessoa que esteja gripada espere mais ou menos uma semana para tomar a vacina, até que os sintomas desapareçam. A única contraindicação é para pessoas que têm alergia a ovo, pois os vírus da vacina são cultivados em ovos embrionados”.

Compartilhe:

Deixe seu Comentário

Leia Também