Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realizaram pesquisa que avalia como a espiritualidade e a religiosidade influenciam e interferem diretamente na saúde física e mental das pessoas. O local utilizado para realizar o estudo foi a Base de Estudos do Pantanal (BEP), na região denominada Passo Lontra, em Corumbá/MS. Foram entrevistadas 129 pessoas com idades entre 30 e 35 anos, que residem na comunidade ribeirinha e se encontram em situação de vulnerabilidade social e econômica. Os moradores que colaboraram com a pesquisa foram avaliados nos quesitos saúde mental com graus de ansiedade e escala de depressão; espiritualidade e qualidade de vida.
A pesquisa da UFMS e UFJF foi publicada em julho deste ano na revista acadêmica internacional em Nova York, Journal of Religion and Health. O resultado do estudo descreve que quanto maior são os níveis de crenças e práticas espirituais e religiosas de um indivíduo, menor é o nível de depressão ou ansiedade apresentado. A médica que coordenou a pesquisa, Lídia Maria Gonçalves afirma que a religiosidade e a espiritualidade também foram associadas a menores níveis de uso ou abuso de substâncias químicas e menores índices de tentativa de suicídio. "Há evidências de que a espiritualidade e a religiosidade influenciam positivamente na saúde mental e isso está de acordo com outros estudos da literatura científica que encontraram o mesmo resultado”.
Depois que concluiu o curso de medicina na UFMS, em 2014, Lídia Gonçalves começou a desenvolver o estudo com a população do Passo Lontra que ficou pronto em 2017. Segundo a médica, antes de iniciar o projeto os pesquisadores obtiveram dados sobre os índices de depressão e ansiedade deste grupo. Ela diz que "o número de indíduos com essas doenças é elevado nessa população."
Segundo Lídia Gonçalves, o propósito da pesquisa é fornecer informações para que os profissionais da saúde encontrem maneiras de ajudar os ribeirinhos que apresentam sintomas de doenças psíquicas. “Na comunidade do Passo Lontra seria difícil pensar em atividades de lazer, de suporte social ou mesmo psicoterapia pois é uma região afastada de centros municipais.”
Lídia Gonçalves ressalta que, com o resultado do estudo, “essa co-relação com a espiritualidade, dá brecha para que os médicos que atendem os pacientes façam a abordagem do assunto e os estimulem em práticas que fazem sentido para eles”.
O estudo também revelou que o ateu ou agnóstico têm a mesma condição que os religiosos de ter qualidade de vida. O psicólogo Fábio Barbosa explica que “não dá para se afirmar que quem tem espiritualidade sofre menos e quem não tem vai sofrer mais. É um fenômeno bem complexo e bem particular. O fator religioso e espiritual não vai determinar quem sofre ou não. Na realidade, todos somos vulneráveis e passivos de passar por problemas".
Barbosa afirma que a espiritualidade e a religiosidade compõem os fenômenos humanos. "Todo indivíduo questiona o sentido da vida e busca respostas para situações que ocorrem em sua rotina e, muitas pessoas recorrem a religião e a espiritualidade para encontrar essas respostas". Para o psicólogo, é o ser humano que produz sentido para si. "Existem outras possibilidades de produção de sentido que não são necessariamente ligadas a crenças religiosas ou espirituais”.
O psicólogo ressalta que a espiritualidade e a religião "podem resolver problemas, como causar problemas". Para ele, os atos religiosos e as crenças espirituais ajudam como fator terapêutico. "Isso ocorre porque existe uma fonte de conforto ali, mas muitas vezes a fonte de angústia está na própria religião”. De acordo com Barbosa, esse sofrimento pode aparecer quando o indíviduo comete "atos pecaminosos" e sente que decepcionou ao seu deus ou deuses.