A leishmaniose é uma doença endêmica em Campo Grande, devido ao alto número de casos. Em junho de 2015, a 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) proibiu a eutanásia obrigatória de animais domésticos com suspeita de leishmaniose, método aplicado até então como forma de controle da doença.
O professor e médico veterinário André Luis da Fonseca leciona na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). há 24 anos e há pelo menos 15 trabalha com projetos de controle de leishmaniose. O veterinário diz que o número de cães em Campo Grande é de, aproximadamente, 130 mil e a doença atinge 25% desse total. "Em torno de 18 mil cães são eutanasiados por ano, o método não causa diminuição do número de casos da doença. A eutanásia é comprovada cientificamente não eficaz para o controle".
O veterinário avalia a proibição judicial da eutanásia como um avanço para o controle da leishmaniose. “A proposta é que o proprietário possa tratar sob a responsabilidade de um especialista para garantir que, tanto a pessoa quanto o animal, não corram risco de saúde pública”.
De acordo com Fonseca, o aumento de casos de leishmaniose é resultado de um descontrole ambiental. “Eliminamos os predadores naturais do mosquito, como a lagartixa e a aranha e ele encontrou o ambiente perfeito para sua reprodução na cidade”. Segundo o professor, os métodos mais eficazes para combater a leishmaniose são três, tratar o animal quando doente, utilizar o repelente como forma de prevenção e castrar o animal para que ele não transmita a doença pela reprodução. Fonseca ainda sugere que o dinheiro público gasto em eutanásia seja revertido na castração gratuita de animais, para evitar, por exemplo, a reprodução descontrolada de cães de rua, que estão mais susceptíveis a contrair e transmitir diversas doenças.
A leishmaniose é doença infecciosa causada pelo protozoário Leishmania, transmitida pelo mosquito flebótomo. Segundo o biólogo Thiago Ruiz, apenas a fêmea transmite a doença. “A fêmea precisa de sangue para a produção de seus ovos, hábito chamado de hematofagia. A fêmea deposita seus ovos no solo e estes se alimentam da matéria orgânica existente até eclodirem". O lixo doméstico favorece a reprodução do mosquito, de acordo com o biólogo, “mas a ausência do lixo não impede o desenvolvimento da mosca”.
A forma mais eficaz de combater o mosquito que transmite a leishmaniose é pela utilização de inseticidas e repelentes. A aplicação deve ser realizada não no solo e sim nos animais domésticos hospedeiros, como os cães. “Aplicada no ar, a substância se dispersa e polui o ambiente. Ao utilizar o inseticida no animal doméstico, como uma espécie de armadilha, o inseto vai picá-lo e morrer”.
Pluto faz o tratamento há 6 mesesA veterinária Denise de Castro faz o tratamento de leishmaniose há 6 meses em seu cachorro, da raça shi-tzu, chamado Pluto. "Ele reagiu super bem, nenhuma interação medicamentosa". Ela também perdeu um cachorro para a doença, o Bruce, da raça Boxer, há 4 anos. "As partes renal e hepática dele ficaram comprometidas, acarretadas pela doença e pelo tratamento. Tive que fazer a eutanásia". Castro recomenda o tratamento, desde que tenha condições financeiras. "A maioria responde bem".
O tratamento da leishmaniose é encaminhado por organizações de proteção animal. O preço varia de 50 a 80 reais por mês e depende do peso do animal, e o tratamento tem que ser mantido por até dois anos para a cura clínica da doença.

A veterinária Denise Castro trata seu cão Pluto de leishmaniose há seis meses. - (Foto: Letícia Ávila)




