Mulheres representaram 8,8% do total de eleitos no primeiro turno das eleições de 2018 para o legislativo estadual em Mato Grosso do sul, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS). Entre os oito deputados federais, duas mulheres elegeram-se. Para o Senado Federal, uma mulher foi eleita. Na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALMS), nenhuma candidata conseguiu uma das 24 cadeiras.
Segundo levantamento do TRE-MS, as mulheres representam 52,1% do eleitorado no estado e, de acordo com as estatísticas eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), possuem 31,6% de representatividade feminina na política brasileira. Elas preenchem o número proporcional à exigência da Justiça Eleitoral em Mato Grosso do Sul. Ao todo, 171 candidatas concorreram às eleições em 2018 e três foram eleitas, Soraya Thronicke do Partido Social Liberal (PSL) para o Senado e duas deputadas federais, Rose Modesto do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e Tereza Cristina do Democratas (DEM).

A Lei dos Partidos Políticos n° 9.096/95 estabelece que o sistema fixo de cotas garanta 30% das candidaturas para mulheres. Em 2010, a reforma eleitoral determinou que 5% dos recursos do Fundo Partidário fosse usado para incentivar a participação feminina na política e 10% do tempo de propaganda partidária fosse dedicado às mulheres.
A estudante do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e candidata a deputada federal pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Agnes Viana explica que a política institucional é um espaço que possibilita poucas formas de ser ocupada pelas mulheres e para as mulheres. “Se formos colocar na balança quantas mulheres e homens foram candidatos, é óbvio que eles ficam com mais tempo na televisão, recebem mais dinheiro do fundo eleitoral, o que possibilita ganharem visibilidade”.
O cientista político e professor do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Humanas (FACH) da UFMS, Victor Miranda explica que a falta de participação das mulheres é cultural e acompanha a tendência da América Latina. “A cidadania brasileira veda tradicionalmente, por meio de costumes e valores instalados na nossa sociedade, a participação feminina em âmbito de protagonismo na política. Nós temos uma sociedade que, em geral, não aceita a participação das mulheres de uma maneira inclusiva, pró-ativa, como em outros lugares do mundo, por exemplo, na Europa”.
A vice-governadora de Mato Grosso do Sul e deputada federal eleita para o mandato de 2019 a 2022, Rose Modesto do PSDB afirma que a quantidade de eleitas no estado é algo que deve servir de exemplo para que mais mulheres se candidatem nas próximas eleições. “Falta um pouco de apoio entre as próprias mulheres, tanto a participarem mais ativamente da política quanto na hora de eleger suas representantes. Há algumas semanas ouvi de um eleitor que somos muito desunidas nesse quesito, porque as mulheres são a maioria do eleitorado, mas minoria entre os eleitos”.
O presidente do Partido da Mulher Brasileira (PMB) em Mato Grosso do Sul, Dorival Betini afirma que parte do problema está na falta de engajamento que as mulheres têm no meio político. “Falta as mulheres acreditarem mais na política e ocupar os espaços delas disputando como prefeitas, deputadas estaduais, federais, governadoras e senadoras. Isso é um direito delas”. Betini ressalta que faltaram recursos do Fundo Partidário para incentivar candidaturas femininas no estado.
O cientista político Victor Miranda afirma que para aumentar a participação feminina na política, as cotas devem sair dos partidos e passar para o número de candidatas eleitas. “Deve haver cota na quantidade de cadeiras. De 513 deputados federais, por exemplo, deveria ter cota para que no mínimo 30% do parlamento fosse ocupado por mulheres. Somente assim teríamos condições de garantir vaga para que as mulheres ocupem espaço, superando os limites estruturais e os valores que as excluem da cidadania mais plena brasileira, em torno do direito de exercer um cargo de representação dentro do sistema político”.

Victor Miranda aponta soluções para ampliar a participação de mulheres. (Foto: Thalia Zortéa).
A participação feminina nas eleições no estado diminuiu em 2018, mas a expressão política das mulheres foi acentuada por meio de movimentos como o protesto das Mulheres contra o Bolsonaro e o ato Mulheres pela Democracia em Mato Grosso do Sul. A candidata a deputada federal, Agnes Viana explica que a resistência de mulheres foi intensificada a partir da Primavera Feminista em 2015 e 2016 e que a crise de representatividade feminina é reflexo do cenário atual do país. “Se eu não vejo, logo não me representa. Se essa bancada que estava, que é a mais conservadora desde a ditadura militar, não representa, isso gera uma descrença até para a mulher que se organizou na rua e na luta de votar em uma mulher”.

(Foto: Thalia Zortéa)