SEGURANÇA

Lei municipal autoriza criação de Central de Atendimento ao Turista Vítima de Violência

O número de boletins de ocorrência registrados na capital chegam a mais de dois mil casos em três anos

Alexandre Kenji, Ana Carolina Planez e Maria Luiza Pereira22/10/2017 - 12h10
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A Central de Atendimento ao Turista Vítima de Violência (CATTV), criada pela Lei Municipal 5876 no dia cinco de outubro, oferecerá serviços de assistência jurídica e ações voltadas para prevenção e combate à violência contra o turista na capital. De acordo com o vereador Wellington de Oliveira a Lei teve como base informações da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista (Decat), que registrou 2.582 boletins de ocorrência de violência a turistas nos últimos três anos. A Central iníciará os atendimentos em janeiro de 2018.

Segundo o autor do projeto de lei, vereador Wellington de Oliveira, a Central faz parte do Plano Municipal de Segurança Pública, para integrar a segurança com as outras áreas da administração pública da capital. “O grande problema hoje não é a falta de segurança em si, mas a falta de comunicação entre os setores da Prefeitura para trabalharem em conjunto nas questões da cidade, que envolvem infraestrutura, lazer, esporte, saúde e segurança. Não importa qual seja a área de atuação desses setores, tudo deve ser trabalhado de modo integrado, e tudo é questão de segurança pública”. 

Para a psicóloga Carla Maciel Castro, o estereótipo da violência na capital é reforçada pela falta de segurança pública na cidade. “Atendo pessoas que vivem com medo de viverem na cidade. Muitas pessoas que foram vítimas de algum tipo de violência, desde psicológica até física, tem a sensação de impotência e insegurança muito grande pela crença da falta da proteção que o município tem hoje. Eu mesma fui assaltada três vezes na cidade e também fico insegura. Então imagina o turista que vem a passeio e é assaltado, ou agredido”.

A coordenadora nacional de eventos dos cursos de Publicidade e Propaganda da Universidade Estácio, Stephanie Malulei Cacciolari, reside no Rio de Janeiro, e foi vítima de violência em Campo Grande quando veio à cidade para visitar a família. Após o assalto Stephanie Malulei ligou para a polícia e relata que houve lentidão por parte da polícia para atender o caso.

Para Stephanie Malulei, a violência e a insegurança de Campo Grande está relacionada à falta de policiamento e agilidade da segurança pública. 

A professora de Ciências e residente em Paraguaçu Paulista, interior de São Paulo, Ivani Lucia de Oliveira sofreu violência ao visitar sua filha, que mora em Campo Grande. Ivani Lucia afirma que estava no carro quando foi atacada e teve o veículo levado. “Seis rapazes cercaram o carro e anunciaram assalto, nos tiraram do carro de forma estúpida e simulando armas por baixo de blusão e moletom. Isso aconteceu por volta das 21 horas. Vivemos momentos de pânico, mas graças a Deus não nos machucaram”. 

Ivani Lucia relata que fez boletim de ocorrência e que o carro foi encontrado duas horas depois, que o ambiente da delegacia a deixou desconfortável. “Tivemos que reconhecer os assaltantes, ficamos numa delegacia até de madrugada. Laura chorava muito, minha mãe idosa junto com a gente. Tivemos muito medo de presenciarmos cenas de violência na delegacia e piorou quando as famílias começaram a chegar, pois dos seis rapazes, cinco eram menores, e um deles tinha 14 anos. Na época tive sintomas de ataques de pânico e fui afastada temporariamente do trabalho, mas hoje estou bem”. 

De acordo com Wellington de Oliveira, o crescimento da criminalidade e da violência contra os turistas são uma parcela dos registros dos boletins de ocorrência. “A central de atendimento ao turista foi criada com um foco específico, mas a violência se estende para além disso. A prefeitura se preocupa em fazer eventos de esportes, de lazer e saúde para a população, mas não tem enfoque na segurança pública. É uma questão que está defasada dentro dos projetos da prefeitura, pois o envolvimento da pauta de policiamento sempre foi, de alguma maneira, colocada de lado no âmbito municipal”.   

O acadêmico de Economia da Faculdade Toulouse School of  Economics (França), Victor Moreau passou dois dias em Campo Grande durante um mochilão que fazia por países da América Latina. Victor Moreau e uma amiga que o acompanhava, também francesa, foram assaltados no centro de Campo Grande. “Levaram minha mochila com todos os documentos em uma praça. Entramos em contato com a segurança local, mas como na época eu não sabia falar muito bem português, ninguém me entendeu em espanhol ou inglês, e não se importaram muito com a nossa situação. Acabamos por encontrar a mochila jogada na rua há duas quadras da praça, e, por sorte, levaram só o dinheiro. Ficamos angustiados com a situação de não ter com quem pedir ajuda, nem mesmo com a polícia local”. 

Para o policial civil Carlos Eduardo Vieira, a dificuldade em atender o turista estrangeiro é a comunicação. Vieira explica que o trabalho da Polícia Civil foca no atendimento à população residente e que há pouca preparação para assistência aos turistas estrangeiros, dificuldade de  comunicação com o turista, assim como registrar o fato para a embaixada em casos de sequestro ou morte, ocorrências mais raras. “Eu até hoje não vi nenhum caso que envolvesse algum turista estrangeiro que foi assassinado ou sequestrado na capital, sempre foram casos como assalto ou furto. Mas isso coloca em questão que necessitamos de um preparo maior para o conhecimento de outros idiomas e um maior preparo para o atendimento ao turista estrangeiro”.

Para a delegada Titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista (Decat), Marilda do Carmo Rodrigues, a criação da Central agilizará os serviços e determinará melhorias nos boletins de ocorrência. “Recebemos muitos casos por mês de turistas vítimas de violência, mas a maioria vai embora e não conseguimos resolver alguns casos que envolvem assaltos, furtos e violência física, pois os mesmos não residem na cidade. A criação dessa central já era para ter sido implantada há muito tempo. O registro dos boletins de ocorrência, que chegam a mais de dois mil, mostrou a necessidade da criação dessa central para atendimento específico ao turista, seja do território nacional, seja estrangeiro”.

Serviços da Central de Acolhimento ao Turista Vítima de Violência (CATVV)

A Central de Acolhimento ao Turista Vítima de Violência (CATVV) deverá funcionar em até 80 dias, subordinada a Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social (Sesde) e terá equipes móveis de acolhimento ao turista. A Central oferece suporte jurídico ao turista nacional ou estrangeiro, vítima de violência, e ainda, em conjunto com os demais órgãos de segurança pública, ações voltadas à prevenção e combate à violência praticada contra os turistas, por intermédio da Guarda Civil Municipal; atuará no acolhimento de turistas vítimas de violência e no encaminhamento destes órgãos de segurança competentes, para a lavratura das devidas ocorrências; oferecerá ao turista uma linha telefônica gratuita (0800), operada por servidores capacitados em língua inglesa ou espanhola, quando necessitarem solicitar o apoio da CATVV, 24h por dia.

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