VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Lei Maria da Penha completa 12 anos com aumento no número de denúncias

Mais de 70% dos boletins de ocorrência registrados pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher até julho deste ano são relacionados à violência doméstica

Jean Celso, Jhayne Lima e Leticia Marquine27/08/2018 - 09h34
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No primeiro semestre deste ano foram registrados pela Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM/MS) 4.663 boletins de ocorrência. Dados fornecidos pela DEAM, mostram que desde a  inauguração da Casa da Mulher Brasileira na capital, em fevereiro de 2015, até dezembro de 2017, o número de boletins de ocorrência registrados cresceu 103%. O número maior de boletins registrados correspondem à denúncias de ameaça e injúria.

  Para a delegada, atendimento humanizado encoraja a denúncia
  (Foto: Jhayne Lima)

Segundo pesquisa realizada em 2017 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a ação do poder judiciário na aplicação da Lei Maria da Penha, Mato Grosso do Sul está entre os estados que apresentam maior incidência de processos de violência contra a mulher. Ao todo são 21,1 processos a cada mil mulheres no estado. O Distrito Federal é o que apresenta maior incidência com 26,5 processos. 

A delegada titular da DEAM, Joilce Silveira Ramos esclarece que o aumento de registros de casos de violência doméstica no estado se dá pelo encorajamento das mulheres. “A violência sempre existiu, o que aumentou foi a confiança dessas mulheres virem procurar porque elas estão vendo uma resposta rápida e um atendimento humanizado”.

A Lei nº 11.340/2006, popularmente chamada de Lei Maria da Penha e reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das três legislações mais avançadas do mundo no que diz respeito ao enfrentamento da violência doméstica contra a mulher completou 12 anos de atuação no Brasil em agosto. A lei reconhece como formas de violência doméstica a violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. 

A psicóloga social e coordenadora de Projetos e Ações Temáticas da Subsecretaria de Políticas para a Mulher (Semu), Márcia Paulino afirma que a Lei Maria da Penha é um importante passo para visibilidade e discussão sobre o tema. “Até antes dos anos 2000 os casos eram vistos como ‘briga de marido e mulher ninguém mete a colher’. A partir da lei, todo o sistema de justiça e as políticas públicas tiveram que se adequar para atender essa mulher em situação de violência”. 

As medidas protetivas têm caráter preventivo e são voltadas a providências urgentes. De acordo com a  Juíza de Direito da 3ª Vara da Violência Doméstica e Familiar, Jacqueline Machado existe a possibilidade de agravamento quando a medida é descumprida. “A mulher precisa informar na delegacia logo no primeiro fato de descumprimento, para que possamos agravar a medida ou com a tornozeleira eletrônica ou com a prisão preventiva”.

Dentre os tribunais de pequeno porte do país, Mato Grosso do Sul expediu a maior quantidade de medidas protetivas. Segundo dados do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) em 2016 foram concedidas 7.152 medidas protetivas de urgência no estado, e em 2017 o número subiu para 8.489, o que representa um aumento de 18,81%.

A motorista de transporte por aplicativo, Iria Dayane Ribeiro foi vítima de violência doméstica e conseguiu a medida protetiva após registrar o primeiro boletim de ocorrência por ameaça contra o ex-marido em outubro de 2016. Durante os últimos dois anos a vítima registrou outros boletins por agressão, ameaça e descumprimento de medida protetiva e afirma se sentir insegura mesmo com apoio legal da justiça. “Depois de um ano e meio que ele foi preso, depois das agressões, de me seguir no trânsito, ele foi preso por uma semana. Eu não me sinto segura e acho que não é eficaz por que eu preciso ser agredida para a justiça fazer alguma coisa”.

De acordo com a delegada da DEAM, Joilce Silveira Ramos uma das soluções para que os números de violências contra a mulher diminuam é a mudança cultural. O projeto “Maria da Penha vai à escola”, criado em 2015, tem o objetivo de conscientizar e sensibilizar estudantes de escolas públicas, no qual são realizadas palestras que discutem sobre violência doméstica e familiar.

Serviço

Disque 180 - Central de Atendimento à Mulher, disponível 24 horas. Ligação sem custo.

Casa da Mulher Brasileira, plantão 24 horas. Telefone: (67) 3314-7550
Rua Brasília, s/n, Jardim Ima, Campo Grande-MS. 

Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, plantão 24 horas. Telefone: (67) 3314-7547
Rua Brasília, s/n, Jardim Ima, Campo Grande.

Disque 190 - Polícia Militar.

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