Novos casos de surtos de raiva bovina foram registradas em três cidades do interior de Mato Grosso do Sul, em um levantamento feito pelo coordenador da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), Fábio Shiroma. O último surto da doença no estado foi registrado no ano de 2002 em 19 municípios com 89 focos da doença, transmitida por morcegos hematófagos. De acordo com o Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros e outras Encefalopatias (PNCERH), desenvolvido pela Iagro e coordenado também por Shiroma, nos anos de 2015 e 2016 foram registrados nove casos em cinco cidades do interior. No mês de agosto de 2017 foram identificados em 40 propriedades nas regiões de Amambaí, Coronel Sapucaia e Aral Moreira, 140 casos da doença.
O doutor em Ciência Animal, Luiz Carlos Louzada Ferreira afirma que diagnosticou bovinos com a doença. De acordo Louzada, os sintomas são fáceis de identificar em estados mais avançados da enfermidade. Com algumas semanas, os bois infectados apresentam cansaço, dificuldade de locomoção e desnutrição. Outro indicador é a morte de animais de outras espécies na mesma região. "Ai a gente faz necrópsia, coleta material, coleta o cérebro e uma parte da medula".
Louzada esclarece que a probabilidade do produtor rural ser contaminado pelo bovino infectado é baixa e geralmente ocorre apenas em casos de contato direto da saliva do animal com algum machucado exposto nas mãos ou braços do criador. Ele ainda explica que apesar da inexistência de um tratamento, há a opção da prevenção do gado pela vacina, que deixou de ser obrigatória em vários municípios de Mato Grosso do Sul em janeiro de 2017. “A gente tinha alguns municípios que a vacinação contra a raiva era obrigatória, agora ela deixou de ser”.
Segundo o coordenador da Iagro, Fábio Shiroma os produtores devem vacinar o rebanho com a vacina antirrábica nas propriedades que ficam às margens do rio Amambai e seus afluentes. Os proprietários dos rebanhos são orientados a contatarem a Iagro sobre possíveis abrigos de morcegos hematófagos (casas, árvores, cavernas) e dos animais infectados para o controle e profilaxia da doença.
Em casos de raiva a Iagro deve ser comunicada Foto: Maria PereiraShiroma explica que encontrar os abrigos de morcegos hematófagos é tão importante para a contenção da doença quanto a vacinação do gado. É necessário que o produtor rural informe à Iagro possíveis abrigos para que seja feita a captura desses morcegos. “A orientação básica, independente daquela região ter focos de raiva, para o produtor é de informar que sempre que vier uma suspeita nervosa ou tiver presença de possíveis abrigos na propriedade ou na região. Como nós sabemos quem é o transmissor da doença, se controlarmos a população dele, a gente consegue consequentemente diminuir a doença em determinada região ou evitar que ela venha a acontecer”. Neste ano, até o mês de julho, foram registrados no estado 25 focos de raiva, 257 abrigos vistoriados, 1.697 morcegos capturados e 5.371.000 animais vacinados.
A professora e pesquisadora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UFMS (Famez), Juliana Galhardo explica o possível retorno deste surto nas cidades interioranas e o histórico dos registros da doença no estado. "Podem ter vários fatores que tenham ocasionado esse retorno. Não sabemos exatamente ainda o motivo, mas temos três hipóteses. O desmatamento das áreas rurais das regiões do sul estado podem ter interferido no deslocamento de morcegos hematófagos para as cidades onde estão tendo os surtos. A vacinação contra a raiva não é considerada mais obrigatória, o que ocorreu o descaso do produtor rural com seu rebanho. E, por último, não há equipe suficiente na Iagro para fazer a inspeção dos abrigos de morcegos no estado, onde são cinco pessoas capacitadas para todo o território regional."

Bois morrem pouco depois de contrair a doença - (Foto: Iagro)




