Abrahão explica que a alta pressão das massas de ar diminui a umidade e é comum no estado do mês de agosto a outubro. Esse fenômeno impede que partículas como poeira, areia, fuligem e cinzas retornem ao solo. “Suspenso no ar, esse material se transforma em uma névoa seca, capaz de encobrir prédios. Na prática, pode resultar em danos pulmonares e problemas na visão, além de prejudicar também animais e plantas”.
O médico pneumologista e presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Mato Grosso do Sul (SPT/MS), Henrique Brito afirma que a má qualidade do ar associada à baixa umidade é preocupante por ser um fator de risco que favorece doenças irritativas e alérgicas, como rinite, bronquite e asma. “Em situações mais graves, doenças infecciosas e até um quadro de pneumonia podem ser causados”.
O médico explica que o monóxido de carbono liberado pelas queimadas e ácaros presentes no ar estão entre os poluentes mais agressivos. “O monóxido de carbono é altamente tóxico para nós porque, em nosso organismo, ocupa o lugar da molécula de hemoglobina que transporta o oxigênio até as células através do sangue. E uma vez respirado, é irreversível, pois ao ocupar o lugar do oxigênio ele não sairá. A própria fuligem pode irritar e inflamar os pulmões”. Brito ressalta que dores de cabeça, falta de ar, turvação da visão e, em casos mais graves, o coma, estão entre os efeitos da respiração do poluente.
Brito afirma que a estiagem é o principal agravante climático, marcada por baixos índices de umidade do ar, o que prejudica a defesa natural do corpo. “A umidade do ar é essencial no processo respiratório. O ar seco nos torna mais vulneráveis a grandes agressores, já que com a ausência de umidade na mucosa nasal, respiração e defesa são dificultadas”. Segundo Brito, o ideal é que o ar que respiramos esteja com a umidade acima de 60%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define que entre 30% e 20% se caracteriza um estado de atenção, abaixo de 20% até 12% é o estado chamado de alerta, e índices menores, se definem como estado de emergência.
O médico explica que hidratação e cuidados maiores no momento da prática de atividades físicas estão entre as medidas que podem ser adotadas para amenizar os efeitos negativos provocados pelas condições climáticas. “Grande parte do nosso organismo é feito de água, é essencial a ingestão de pelo menos dois litros por dia. A ingestão de líquidos não inclui refrigerantes ou sucos industrializados e é importante lembrar que bebidas alcoólicas podem causar a desidratação. Além disso, pode-se hidratar diretamente a mucosa respiratória com soro fisiológico, por exemplo, para ela cumprir seu papel de defesa e umidificação do ar”.
O professor explica que avanços no estudo da qualidade do ar serão possibilitados pelo projeto (Foto: Evelyn Mendonça)
Na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), será instalada estação de monitoramento da qualidade do ar, sob a orientação dos professores do curso de Física, Hamilton Germano e Widinei Fernandes. A estação vai ser instalada na Universidade e irá medir os poluentes por meio de equipamentos fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Germano ressalta que os principais poluentes analisados durante o estudo da qualidade do ar serão identificados pela estação de monitoramento.
Germano complementa que em Mato Grosso do Sul a qualidade do ar apresenta um equilíbrio na maior parte do ano e que no período de queimadas, nos meses de agosto, setembro e outubro, condição do ar é prejudicada. “É um projeto bem legal, pois além de ser como um projeto de pesquisa, no qual utilizamos alunos em iniciação científica e alunos do mestrado, nós iremos fornecer esses dados para a Secretária de Saúde, para orientar. É o que faz dele um projeto muito interessante”.