MEIO AMBIENTE

Qualidade do ar atinge categoria péssima em Mato Grosso do Sul

Poluentes, cinzas e poeira formam névoa seca que pode causar doenças respiratórias e infecções

Amanda Raíssa, Evelyn Mendonça e Jéssica Lima21/09/2019 - 16h22
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Mato Grosso do Sul registrou altos índices de temperatura e de baixa umidade do ar durante os meses de agosto e setembro. Segundo dados do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), a qualidade do ar no estado atingiu a categoria "péssima" no mesmo período. Nessas condições, material particulado como poeira, cinzas e poluentes ficam dispersos no ar e causam danos à saúde. 

O boletim meteorológico divulgado pelo Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de MS (Cemtec) em agosto de 2019 mostra que Campo Grande ficou 28 dias sem chuva e atingiu temperatura máxima de 35,7ºC. A estiagem durou 31 dias nos municípios de Sidrolândia, Sonora, Sete Quedas, Porto Murtinho e Santa Rita do Pardo. A maior temperatura registrada pelo boletim em Mato Grosso do Sul foi de 38,6ºC em Três Lagoas. Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Corumbá foi o município com mais focos de calor do Brasil, com 3.627 registros em 2019.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o estado de Mato Grosso do Sul registrou índice de umidade do ar em 9% no mês de setembro. O meteorologista Natálio Abrahão explica que a pressão atmosférica, a umidade relativa e a temperatura influenciam na qualidade do ar. "Em Mato Grosso do Sul, o inverno é tipicamente seco, com baixas oscilações de temperatura e situações permanentes de baixa umidade, com estiagens geralmente longas, com mais de 25 dias".

Abrahão explica que a alta pressão das massas de ar diminui a umidade e é comum no estado do mês de agosto a outubro. Esse fenômeno impede que partículas como poeira, areia, fuligem e cinzas retornem ao solo. “Suspenso no ar, esse material se transforma em uma névoa seca, capaz de encobrir prédios. Na prática, pode resultar em danos pulmonares e problemas na visão, além de prejudicar também animais e plantas”.

O médico pneumologista e presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Mato Grosso do Sul (SPT/MS), Henrique Brito afirma que a má qualidade do ar associada à baixa umidade é preocupante por ser um fator de risco que favorece doenças irritativas e alérgicas, como rinite, bronquite e asma. “Em situações mais graves, doenças infecciosas e até um quadro de pneumonia podem ser causados”.

O médico explica que o monóxido de carbono liberado pelas queimadas e ácaros presentes no ar estão entre os poluentes mais agressivos. “O monóxido de carbono é altamente tóxico para nós porque, em nosso organismo, ocupa o lugar da molécula de hemoglobina que transporta o oxigênio até as células através do sangue. E uma vez respirado, é irreversível, pois ao ocupar o lugar do oxigênio ele não sairá. A própria fuligem pode irritar e inflamar os pulmões”. Brito ressalta que dores de cabeça, falta de ar, turvação da visão e, em casos mais graves, o coma, estão entre os efeitos da respiração do poluente.

Brito afirma que a estiagem é o principal agravante climático, marcada por baixos índices de umidade do ar, o que prejudica a defesa natural do corpo. “A umidade do ar é essencial no processo respiratório. O ar seco nos torna mais vulneráveis a grandes agressores, já que com a ausência de umidade na mucosa nasal, respiração e defesa são dificultadas”. Segundo Brito, o ideal é que o ar que respiramos esteja com a umidade acima de 60%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define que entre 30% e 20% se caracteriza um estado de atenção, abaixo de 20% até 12% é o estado chamado de alerta, e índices menores, se definem como estado de emergência.

O médico explica que hidratação e cuidados maiores no momento da prática de atividades físicas estão entre as medidas que podem ser adotadas para amenizar os efeitos negativos provocados pelas condições climáticas“Grande parte do nosso organismo é feito de água, é essencial a ingestão de pelo menos dois litros por dia. A ingestão de líquidos não inclui refrigerantes ou sucos industrializados e é importante lembrar que bebidas alcoólicas podem causar a desidratação. Além disso, pode-se hidratar diretamente a mucosa respiratória com soro fisiológico, por exemplo, para ela cumprir seu papel de defesa e umidificação do ar”.

 O professor explica que avanços no estudo da qualidade do ar serão possibilitados pelo projeto (Foto: Evelyn Mendonça)

Na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), será instalada estação de monitoramento da qualidade do ar, sob a orientação dos professores do curso de Física, Hamilton Germano e Widinei Fernandes. A estação vai ser instalada na Universidade e irá medir os poluentes por meio de equipamentos fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Germano ressalta que os principais poluentes analisados durante o estudo da qualidade do ar serão identificados pela estação de monitoramento.

Germano complementa que em Mato Grosso do Sul a qualidade do ar apresenta um equilíbrio na maior parte do ano e que no período de queimadas, nos meses de agosto, setembro e outubro, condição do ar é prejudicada. “É um projeto bem legal, pois além de ser como um projeto de pesquisa, no qual utilizamos alunos em iniciação científica e alunos do mestrado, nós iremos fornecer esses dados para a Secretária de Saúde, para orientar. É o que faz dele um projeto muito interessante”. 

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