BIOLOGIA

Pesquisa da UFMS descobre que o morcego é também agente polinizador da planta erva-de-passarinho

A foto do morcego no processo de polinização comprovou o contato do mamífero com a estrutura reprodutiva da flor

Douglas Ferreira, Ighor Avanci e Silvia Souza11/06/2018 - 14h47
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Pesquisadores do Instituto de Biociência (Inbio) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Erich Fischer, Andréa de Araujo e Paulo Robson em parceria com professores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Rodrigo Fadini e Sônia Castro comprovaram por meio de registro fotográfico que morcegos são um dos responsáveis pela polinização da planta erva-de-passarinho. Os professores acreditavam que somente beija-flores realizavam o processo de polinização.

A professora e pesquisadora do Instituto de Biociências (Inbio), Andréa de Araujo afirma que a foto é um recurso importante em uma pesquisa cientifica. "No caso dessa foto, ela inclusive mostrou o contato do morcego com a estruturas reprodutivas da flor. Porque trabalhar com polinização por morcegos é mais difícil porque é noite, então à noite você já tem uma dificuldade maior de conseguir enxergar o que está acontecendo. Ela [foto] é um registro que prova a ocorrência daquele fato que a gente está mostrando. Essa foto foi muito importante para gente conseguir publicar o artigo e ainda ter o destaque de ter a foto publicada na capa".

A Struthanthus flexicaulis, conhecida como erva-de-passarinho é uma planta hemiparasita que pertence a familia Loranthaceae. Elas são comuns em troncos de árvores. Segundo Andréa de Araujo, acreditava-se que somente aves a polinizavam. "Quando estava no Pantanal coletando de dados do meu doutorado e do mestrado de uma aluna nós observamos que algumas espécies tinham flores diferentes, tinham flores verdes, mais robustas e que abriam a noite. São características relacionadas a polinização por morcegos".

O professor Paulo Robson afirma que a fotografia é o primeiro registro da visita de um morcego na planta erva-de-passarinho. Antes da pesquisa era de conhecimento científico que as ervas-de-passarinho eram apenas polinizadas por beija-flores.

 

Polinização

O biólogo e mestre em Botânica, José Amarildo Avanci Júnior explica que a polinização foi um processo evolutivo importante aos vegetais. "No princípio, plantas inferiores como as pteridófitas (samambaias e avencas) e briófitas (musgos) tomavam conta de  partes restritas do planeta, uma vez que seu gameta masculino é dotado de flagelos que são utilizados na natação e deslocamento, mostrando então, que esses vegetais são dependentes da água para o sexo (encontro dos gametas). Com o surgimento do grão de pólen, acaba-se a dependência da água para a fecundação, proporcionando ao vegetal conseguir transferir seus gametas sem a necessidade de um ambiente úmido, o que garantiu sua expansão territorial, corroborada posteriormente com a produção dos frutos e sementes."

Avanci Júnior também explica que vários animais podem realizar a polinização e algumas plantas possuem seus próprios polinizadores. "Poderá  haver grupos diferentes de polinizadores, e muitas vezes, há espécies vegetais que tem seu polinizador específico, muito comumente o que ocorre em orquídeas.  Além da polinização por vento (anemofilia) e pela água (hidrofilia), algumas plantas contam com o auxílio fundamental de animais para esse evento. Temos a polinização por abelhas e moscas (entomofilia), besouros (cantarofilia), borboletas (psicofilia), algumas mariposas (falenofilia), algumas aves (ornitofilia) e por alguns morcegos (quirópterofilia)."

Essa descoberta foi publicada pelos pesquisadores na Revista Ecology e o registro fotográfico foi utilizado para a capa da edição de maio - volume 99(5).

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