CIÊNCIAS

Pesquisadores realizam aspirações foliculares para prevenir a extinção de onças

A aspiração folicular por laparoscopia possibilita produção de embriões por meio de fertilização "in vitro"

Marcelle Marques, Maria Paula Garcia, Daniel Catuver21/11/2017 - 10h41
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Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da McGill University (Canadá) realizaram, nos dias 27 e 28 de outubro, pela primeira vez no estado do Mato Grosso do Sul, uma Aspiração Folicular por Laparoscopia (LOPU) em onças-pardas.  A metodologia funciona também para onças-pintadas, animais que correm risco de extinção e se beneficiarão disso.

O procedimento é o projeto de pós-doutorado do médico veterinário Gediendson Ribeiro de Araújo. Ele tem como objetivo desenvolver uma metodologia para a produção de embriões de onças-pardas em cativeiro, que também funcionam para onças de vida livre. Araújo escolheu as onças-pardas, pois eram as disponíveis no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) e pela escassez de onças-pintadas em cativeiro.

Aspiração folicular por laparoscopia é a aspiração de oócitos do animal. Os oócitos são os gametas femininos não maturados, como os óvulos dos seres humanos. Após a retirada dos oócitos, é possível fazer a fertilização in vitro e produzir embriões. Araújo explica que usaram metodologias diferentes em cada dia.

Segundo Araújo, esta é a primeira aspiração de oócitos em animais silvestres no estado. “No Brasil, praticamente apenas dois grupos de pesquisas trabalham com fêmeas de felinos silvestres”. Houve problemas na produção de embriões, devido a uma contaminação do sêmen. Quando os embriões se desenvolveram, os fungos se proliferaram e os mataram. Com ajuda de hormônios, foram retirados uma média de 34,8 oócitos de cada uma das oito onças. Uma delas teve 106 oócitos extraídos, número considerado recorde mundial de oócitos aspirados de um grande felino.

O médico veterinário da Universidade de São Paulo, Pedro Nacib Jorge Neto afirma que teve a ideia de trabalhar com Araújo, quando soube que ele realizava coleta de sêmen de onças-pardas.“Com as conversas, ele começou a me ajudar no meu projeto de mestrado e começou a  mexer no projeto de pós-doutorado dele com um projeto muito parecido com o meu”. O projeto de Neto é  estabilizar a tecnologia de aspiração folicular por laparoscopia em onças-pintadas. “Para animais silvestres, quase não existem essas tecnologias. E no caso das onças, hoje nós somos meio que um dos únicos que estão trabalhando para desenvolver isso”. A primeira etapa da aspiração folicular por laparoscopia em onças aconteceu em junho e a próxima será em dezembro. “Nós já conseguimos padronizar a técnica e agora estamos trabalhando em aprimorar a possiblidade de desenvolver os embriões in vitro”.

A médica veterinária e professora da UFMS, Thyara de Deco Souza coordenou as ações nos dois dias. Thyara Souza afirma que a anestesia é feita com aplicação intramuscular via dardo ou zarabatana. Entre as substâncias anestésicas utilizadas estão propofol e fentanil. Além disso, os animais foram entubados e monitorados.

A médica veterinária Maitê Cardoso afirma que conhecia o processo com pequenos ruminantes. Maitê Cardoso fará as aspirações em fevereiro. “A experiência mais diferente que pude ter até o momento. Desde o meu segundo ano de graduação, eu procurei levar minha graduação para o lado de animais selvagens, mas esse lado mais conservacionista, trabalhando com fêmeas a parte de reprodução realmente foi a primeira vez. A gente já tinha uma certa rotina de fazer coleta do sêmen dos machos”.

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