Resultados de pesquisa realizada na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pela engenheira ambiental e mestre em Tecnologias Ambientais Ana Claudia Braga, mostram que o tratamento de esgoto em Campo Grande é ineficiente e pode, até 2020, tornar tóxico o único rio que banha a Capital, o Anhanduí.
A empresa Águas Guariroba, responsável pelos serviços de saneamento básico de Campo Grande, tem obrigação contratual de, até 2025, atender em 100% o serviço de coleta de esgoto na capital. De acordo com o relatório do Instituto Trata Brasil divulgado em agosto de 2014, 68% da população está ligada a rede coletora. Do total, cerca de 48% do efluente, derivado de vasos sanitários, pias e chuveiros, é tratado e depois devolvido aos córregos da cidade.
O engenheiro ambiental e professor da UFMS, Ariel Ortiz explica que se o esgoto sanitário for jogado diretamente nos córregos, sem tratamento, gera poluição de origem orgânica. Como consequência, o oxigênio dissolvido na água diminui e compromete a vida aquática, principalmente os peixes, além de poluir a água para consumo humano. “Então antes de jogar o esgoto de volta nos córregos para a água refazer seu caminho nós levamos esse esgoto para a estação de tratamento”.
A pesquisa de Ana Braga, realizada no Laboratório de Qualidade Ambiental (LAQUA) da UFMS, em 2012 analisou amostras de esgoto bruto e tratado cedido pela concessionária Águas Guariroba e amostras coletadas a montante e a jusante do Rio Anhanduí, que recebe esses efluentes. “Nós tínhamos o controle da qualidade da água antes do lançamento, no lançamento e após o lançamento.”
Foram avaliados parâmetros físicos e químicos, como temperatura, pH e óleos, entre outros critérios de acordo com o padrões estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). A presença de metais e o comportamento da espécie bioindicadora Daphnia similis também foram analisados. O microcrustáceo conhecido como pulga d’água é muito utilizado em testes de ecotoxicidade. “Se ela morre significa que os outros também morrem”.
Os dados compilados apontam a morte de mais de 50% dos organismos expostos ao efluente tratado. Outro ponto observado foi a vazão do rio. “Podemos ver pelos nossos resultados que houve uma diferença significativa depois que o esgoto era lançado no rio. Hoje o rio tem uma vazão de aproximadamente 3.600 litros por segundo e a concessionária lança 1.600 litros por segundo. É quase a metade da vazão do rio”.
Saúde a curto prazo
O gestor ambiental da Águas Guariroba, Fernando Garayo, acredita que a principal melhoria que a implantação da coleta de efluentes domésticos traz é com relação a saúde. “Existem dados que mostram que os bairros que receberam essa rede de esgoto tem uma diminuição nos índices de doenças causadas por infecções, diarreias e tudo mais”. Segundo Garayo um investimento de R$636 milhões será feito e o sistema de tratamento acompanhará a ampliação da rede de esgoto.
Ana Braga concorda que retirar o esgoto de perto das pessoas causa impactos sociais positivos na saúde e na educação, “Você tira a pessoa de um ambiente perigoso e inóspito”. O problema, segundo Ana Braga, é que se o tratamento continuar ineficaz o rio estará tóxico antes que 100% dos moradores da cidade acessem o serviço. Com isso a população, principalmente ribeirinhos, poderá sofrer com doenças típicas de veiculação hídrica como cólera e hepatite. "O Rio Anhanduí não morre em Campo Grande, ele vai carrear essa substância até o Rio Pardo que vai para o Rio Paraná".

O encontro dos córregos Segredo (esquerda) e Prosa (direita) marcam o início do Rio Anhanduí. - (Foto: timblindim.wordpress.com)




