MEIO AMBIENTE

Projeto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul realiza estudo sobre alterações de clima e sol

Pesquisa coordenada pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação (PPGEC) está em fase inicial e busca compreender os impactos que as modificações causam à natureza

Fernanda Venditte, Julia Renó e Mara Machado28/05/2019 - 10h15
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O projeto “Mudanças climáticas e no uso do solo: em direção ao entendimento dos efeitos antrópicos e do aumento de temperatura na biodiversidade do Pantanal”, coordenado pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação (PPGEC) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), foi criado com o objetivo de investigar os impactos das mudanças climáticas e as modificações do uso do solo sobre a biodiversidade. De acordo com o levantamento da  Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, na sigla em inglês BPBES (Brazilian Platform on Biodiversity and Ecosystem Services), no Brasil 50% da área original do Cerrado e do Pampa foi transformada em monoculturas agrícolas ou em plantios florestais com espécies exóticas, o que segundo o coordenador do projeto e professor do Instituto de Biociências da UFMS, Luis Gustavo Santos representa 20% da vegetação nativa de Mato Grosso do Sul. Além disso, segundo o monitoramento da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre 2017 e 2018, o Estado perdeu 140 hectares de áreas de Mata Atlântica, o que representa 21% de avanço no desmatamento do bioma, em comparação à 2016 e 2017 em que 116 hectares foram eliminados.

Segundo o estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, desenvolvido em 2016, Mato Grosso do Sul apresentará um aumento de até 5,8°C graus na temperatura e uma redução de até 19% no volume de chuvas nos próximos 25 anos, na região norte do Estado. O banco de dados do Centro de Monitoramento do Tempo e Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec/MS) mostra que em janeiro de 2018 a máxima registrada em Campo Grande foi de 34,50 °C graus e em 2019, no mesmo mês a máxima foi 37,90°C graus, o que representa o aumento de 5,4°C graus. 

De acordo com o professor do Instituto de Biociências e Laboratório de Ecologia, Rudi Ricardo Laps as alterações climáticas ocorrem durante o ano todo e com a análise da temperatura do planeta, percebe-se que os últimos dez anos são mais quentes. "Essa alteração é bastante complexa, várias ações nossas acentuam isso. Então temos várias indicações de emissões, que são gases produzidos pelo homem, ou seja, pela queima de fósseis, de combustível fóssil, essa é uma das principais funções, queima de florestas e também algumas alterações em áreas onde há muito metano". Para Rudi Ricardo Laps, a agricultura familiar é uma alternativa porque favorece a conservação da natureza ao utilizar pouco agrotóxico, por exemplo, agride menos o solo. Segundo ele, existe também o componente social, porque as pessoas ficam no campo e fazem da atividade a forma de subsistência delas. 

O pesquisador que participa do projeto, Pierre-Cyril Renaud afirma que o objetivo é relacionar a biodiversidade com a ecologia, agricultura e conscientizar socialmente. "A gente não pode deixar de lado o fato que a produção de soja, gado e milho é uma coisa positiva para Mato Grosso do Sul, porque disponibiliza renda, trabalho e emprego, mas se as políticas públicas só fazem monocultura, então vai chegar em um ponto onde os conflitos no uso de terra vão ser tão grandes que a vantagem e a renda dessas culturas vão ser completamente perdidos pelo gasto nos conflitos. Não é se opor a criação de gado e soja, é achar um bom equilíbrio para manter as funções ecológicas e ao mesmo tempo guardar um nível de produção para o bem estar da população".

De acordo com o estudo realizado pela BPBES, a alternância de cheias e vazantes das águas do Pantanal está ameaçada por obras de infraestrutura. Segundo a publicação da Organização das Nações Unidas (ONU), lançada em seis de maio, cerca de um milhão de espécies possuem risco de extinção e uma das principais causas são as mudanças climáticas, que provocam impactos no ecossistema. A diversidade média de espécies nativas também diminuiu na maioria dos principais habitats terrestres, a redução foi de pelo menos 20% desde 1900. Com esse resultado, mais de 40% de espécies de anfíbios, 33% dos recifes de corais e um terço de todos os mamíferos estão ameaçados de extinção.

Para o professor Luiz Gustavo, o Pantanal é um local que ainda está preservado, 87% da paisagem é conservada. No Cerrado, a situação é diferente, 20% corresponde à vegetação nativa. “Quando você olha para o Cerrado, você tem um cenário triste. Enquanto o outro tem 80, aqui é 20, é bem díspare. Enquanto no Pantanal a atividade é a pecuária, no Cerrado a pressão é por solo, é por agricultura concentrada na soja”.

Segundo o superintendente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Mato Grosso do Sul (Crea-MS), Altamiro Barbosa a agressão do solo hoje é menor devido a tecnologia utilizada no campo. “As erosões são controladas através dos terraços, das curvas de níveis, ou seja, com a tecnologia empregada atualmente, o conhecimento técnico dos agrônomos, dos profissionais do campo, permite que a conservação de solo faça com que se perpetue por muitos anos, não tendo grandes causas ambientais como aconteceu no passado”.

O projeto da UFMS busca criar também, por meio do estudo, um banco de dados com as espécies, as mudanças climáticas e os usos do solo na Bacia do Alto Paraguai. Com a plataforma, os pesquisadores poderão identificar sinais precoces anteriores a perdas funcionais ou a extinção local de espécies na região. Além disso, as análises desta base de dados vão possibilitar interdisciplinaridade entre as áreas do conhecimento como, por exemplo, biologia da conservação e ecologia da restauração.

Os participantes do grupo integram o Programa Institucional de Internacionalização (PrInt), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O projeto é orientado dentro de quatros eixos da ecologia, denominados como, “Limiares ecológicos taxonômicos e funcionais”, “Redes de interação entre espécies”, “Mudanças climáticas: predições micro-experimentais” e “Mudanças climáticas: extrapolação para paisagens”. Segundo o coordenador do projeto, Luiz Gustavo, a pesquisa está em fase inicial e buscará contribuir nos estudos de biodiversidade nos próximos cinco anos. "O projeto busca compreender o impacto dessas modificações que estão rolando, o foco não é entender como elas ocorrem. Como ocorre e porque, a gente tem um pouco de ideia, essas motivações a gente sabe, embora seja importante olhar também. Mas a gente está mais preocupado com o que vai acontecer, se a gente acelerar esse processo".

 
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