O professor, biólogo e ilustrador Dione Cordeiro Calado, especialista em ilustrações que representam elementos da natureza, há quatro anos ensina técnicas desse tipo de desenho em Mato Grosso do Sul. Também chamada de ilustração biológica, a prática concilia ciência e arte em um modelo de comunicação que ajuda na compreensão de teorias de zoologia, botânica e genética. Devido a falta de referências no país e no Estado, Dione Calado começou a estudar de forma autodidata e agora busca repassar seus conhecimentos à quem tiver interesse.
O profissional da ilustração, que teve seu dia celebrado em 8 de setembro, Dia Nacional do Ilustrador, ainda não é reconhecido no Brasil e há poucos que se especializam em área tão específica como o desenho científico. A União Nacional dos Ilustradores Científicos (UNIC), de Belo Horizonte, Minas Gerais, objetiva unir profissionais para consolidar e divulgar a carreira nacionalmente. A associação, informal, foi criada em 2006 e deu origem à Associação dos Ilustradores Científicos do Centro-Oeste (AICCO). O professor Dione Calado é o único associado da AICCO em Mato Grosso do Sul.
O biólogo considera a ilustração uma importante ferramenta de educação, com temáticas diversas quanto as da própria ciência, que foi o que lhe despertou o interesse. “Comecei a desenhar através de sites, procurando material por toda a internet, aí depois, em 2010, eu conheci a Associação dos Ilustradores da Universidade de Brasília (UNB), onde fiz alguns cursos. De lá pra cá venho desenvolvendo o meu desenho, digamos assim, de nível mais acadêmico”.
Ilustração produzida pelo professor Dione Calado (Foto: Dione Calado)
Desde que começou a estudar e praticar a ilustração científica, o professor tem ministrado minicursos para estudantes. Segundo ele, muitas pessoas nem sabem do que se trata porque falta incentivo dentro das escolas e universidades: “A gente vê claramente que não é bem divulgado nas universidades , aqui em Campo Grande, por exemplo, tem pessoas que desenham muito bem, mas voltado pra ilustração científica da área da biologia eu não conheço, então eu meio que estou fomentando esse trabalho”. O professor ministrou cursos na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e em outubro na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
A estudante de biologia da UFGD, Roberta Costa, participou do curso ministrado em Dourados e considera que ilustração auxilia muito a linguagem técnica. “O desenho nos permite interpretar a realidade, faz com que nós notemos detalhes difíceis de observar. A fotografia e o vídeo não nos dão essa possibilidade, pois apenas ‘congelam’ uma cena”. Além disso, considera interessante a linguagem de cada profissional, ao inserir conteúdo artístico no conhecimento: “não há imagens estereotipadas, pois surge a linguagem pessoal de quem desenha”.
Os cursos ministrados por Dione Calado duram, em média, dois dias, o suficiente para dar uma noção básica de técnicas para a atividade. Não há necessidade de formação em ciências biológicas para participar dessas oficinas, mas o ideal, segundo Dione Calado, é que o aluno tenha algum conhecimento de traços. “É indicado o tipo de lápis, papel, materiais específicos para desenho, onde comprar. Normalmente, em botânica, proponho um desenho de observação, em que o aluno observa a planta e representa da forma que está vendo. A parte da zoologia, começo trabalhando com insetos, pois considero mais simples de trabalhar. De acordo com a demanda, se houver necessidade de trabalhar com outros animais, como peixes, há possibilidade, mas o básico mesmo são frutos, vegetais e insetos”.
Para a estudante de Biologia Sara Maria Sguissardi, que iniciou o curso na UCDB e agora o conclui na UFMS, é clara a falta de difusão dessa prática dentro do ambiente acadêmico, apesar de haver pessoas interessadas. Segundo a estudante, “a ilustração é presente em aulas práticas nos laboratórios de entomologia e principalmente botânica, os professores nos incentivam a fazer desenhos do que vemos nos microscópios e lupas, mas nada muito aprofundado. Ajuda muito a memorizar os nomes, as partes da morfologia e anatomia dos insetos e das plantas, mas gostaria de aprender mais técnicas diferentes, pena que não haja sequer uma matéria optativa dentro da universidade”.
Segundo o biólogo, muitas publicações apresentam ilustrações de má qualidade, feitas por amadores, que, ao invés de enriquecerem o texto e facilitar sua compreensão, confundem ainda mais o leitor. Esse problema, conforme explica, pode ser relacionado à falta de formação profissional dos autores dos desenhos: “Eu, como professor de biologia, já peguei vários livros de editoras de renome com erros de nomenclatura e também erros na ilustração, detalhes muito pequenos que muitas das vezes, pro leigo, passam despercebidos”.
A especialização é válida para o profissional que deseja diferenciar seu currículo, como demonstra o professor.
O professor tem planos de abrir um atelier próprio em 2015 para oferecer cursos profissionalizantes na área, após ter observado um aumento da demanda em interessados em ilustração científica, mesmo que aos poucos. Para quem quiser saber mais sobre o trabalho de Dione Calado, basta acessar o seu blog, Ilustração Biológica.






