ECONOMIA

Vídeolocadoras perdem espaço no comércio de Campo Grande

Hoje apenas um estabelecimento oferece aluguel de filmes na capital

Amanda Amaral e Hannah de Moliner29/09/2014 - 16h49
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A popularização da internet foi a responsável pelo redução do número de vídeolocadoras  em Campo Grande. No último ano fecharam as portas três empresas de quatro restantes. Os antigos proprietários consideram que o YouTube, Netflix, todos serviços disponíveis na internet como principal motivo da quase extinção desse tipo de negócio. Empresários e funcionários, que tinham sua fonte de renda no aluguel de filmes, foram diretamente afetados com a falta de demanda e precisaram se adaptar. Alguns desistiram e hoje dependem de outra fonte de renda, outros continuaram no comércio e mudaram seu ramo de atividade. 

Assistir um filme passou a ser uma atividade ligada à web, devido à facilidade oferecida. Entre os serviços da rede, os mais populares são download, arquivo é transferido ao computador, ou streaming, usuário assiste online, sem precisar baixar nenhum arquivo. O jornalista Thiago Andrade, que trabalhou em uma vídeolocadora durante a adolescência, aderiu há pouco tempo ao download e o Netflix, serviço que oferece a assinatura mensal de filmes, séries e documentários por streaming. Desde 2010, o jornalista não frequenta mais locadoras de vídeos e explica “Netflix é a minha TV a cabo, não assino nada além deles. É prático, você convida os amigos, vê o que tem no catálogo e assiste. Download eu uso pra encontrar algumas coisas mais específicas, difíceis de achar”.

Somente uma loja desse segmento sobrevive a escassez da clientela na capital, a franquia nacional de vídeolocadoras 100% VÍDEO, localizada na Avenida Afonso Pena, segundo funcionário da 100% VÍDEO, Fernando Augusto. Ele diz que o que ainda mantém a locadora aberta são os antigos clientes fiéis ao DVD, e até mesmo Blu-Ray e VHS.

A bacharel em direito, Mariana da Silva, de 23 anos, gosta de ter a opção de locar os filmes para assistir em casa. "Não tenho muita paciência para fazer download dos filmes e nem sei direito onde achar as coisas que quero ver na internet, então acho bom poder ir à última grande locadora da cidade e escolher à mão, mas nenhum dos meus amigos faz mais isso".

Funcionário da 100% VÍDEO, Fernando Augusto, comemora pequeno aumento no faturamento do último mês, devido ao fechamento da última concorrente, “Agora nós somos realmente a última locadora de Campo Grande”. A penúltima, Megamil Vídeo, também uma franquia, resistiu até este ano e agora exibe uma placa escrito "Aluga-se" na fachada.

A ex-proprietária da vídeolocadora Cinemania, Luciane Damico relata, “sobrou apenas uma, em uma cidade com mais de 800 mil habitantes, foi o suficiente”. Sua família, que possuía três lojas desde 1991, conseguiu manter-se até 2010. Luciane Damico ainda diz que apesar da demora excessiva que um filme levava para chegar até as vídeolocadoras, “a época do VHS foi o tempo áureo”. Uma cópia chegava a valer R$ 100 cada para os proprietários da videolocadora.

Quando o movimento diminuiu e as despesas da loja começaram causar prejuízo, a decisão de fechar foi difícil para a família. Luciane Damico explica que a locadora era mais que apenas um lucro, era uma satisfação pessoal para os donos. Não houve alternativa e os três prédios que antes abrigavam prateleiras lotadas de filmes deram lugar a uma loja de pisos, uma loja de informática e um escritório de contabilidade.

O acesso a internet e plataformas como Popcorn Time, programa gratuito que disponibiliza um acervo pirata de filmes em alta definição por streaming, também facilitou o acesso a filmes antes mesmo do lançamento em cinemas.  O tatuador Ravi Rodrigues é usuário do programa,  antes era frequentador assíduo das vídeolocadoras, “sinto falta é de ter a chance de ver alguns filmes difíceis de encontrar e que dificilmente vão cair na minha mão se não forem comprados em VHS”. Segundo Ravi Rodrigues, ele costumava frequentar a MB Vídeo pelo acervo de clássicos, e a GP Vídeolocadora, pois ficava perto de sua casa.

Algumas famílias de Campo Grande que dependiam do lucro do aluguel de filmes tiveram que se adaptar e mudar de ramo.  A GP Vídeolocadora, uma das últimas locadora de bairro, hoje é pizzaria GP. O ex-proprietário do negócio, Paulo Fernando, explicou que a locadora de filmes não suportou a concorrência, depois de permanecer por 10 anos em funcionamento.

Outros proprietários de vídeolocadoras, como os da MB Vídeo, optaram por viver do aluguel do imóvel. Fechou há dois anos e os donos ainda estão com a maior parte do acervo, mais de cinco mil filmes, que estão a venda. O prédio onde ficava a locadora hoje é uma galeria de estabelecimentos comerciais.

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