BEBIDAS

Cervejeiros incentivam consumo de variedades artesanais em Campo Grande

Mercado microcervejeiro cresceu 36% no Brasil nos últimos três anos

Jéssika Corrêa e Pedro Centeno28/10/2014 - 13h36
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O Brasil é o 3º maior consumidor de cerveja, atrás dos Estados Unidos e da China. As mais consumidas no país são as lager industrializadas, de baixa fermentação, apropriadas para o clima tropical. A preferência por este estilo de cerveja não impediu o crescimento das microcervejarias no Brasil, que incentivam o consumo de produtos artesanais, destaques na Oktoberfest, evento comemorado em todo o mundo. Em Campo Grande, a festa reuniu cervejeiros e apreciadores da culinária alemã.

Segundo levantamento feito pela consultoria britânica Mintel, o consumo de cervejas artesanais cresceu 36% nos últimos três anos no Brasil. A contribuição das microcervejarias no país representa 1% do total e o setor busca consolidação com aproximadamente 200 companhias que atuam neste nicho. Destacam-se Blumenau (SC), onde é realizada a maior comemoração da Oktoberfest no país, Ribeirão Preto (SP) e Curitiba (PR). Campo Grande teve a primeira microcervejaria inaugurada em 2013, a Morena Bier. Hoje é possível encontrar nas prateleiras de supermercados e na carta de cervejas de bares e restaurantes, variedades nacionais e importadas de países como a Alemanha, Holanda, Inglaterra, Bélgica, Espanha, Uruguai, Argentina, Estados Unidos e Japão.

Classificação das cervejas

Renan Heimbach Vieira é proprietário da Casa do Chef, loja especializada em cervejas artesanais inaugurada há cerca de três anos. "A ideia inicial era ser uma loja de presentes masculinos e a cerveja entrou para completar o mix, já que era algo que gostávamos muito." A Casa tem em torno de 200 "rótulos" de cervejas nacionais e importadas disponíveis parA Schornstein é produzida segundo a Lei Alemã da Pureza, com malte, lúpulo, fermento e águaa venda, cujo preço varia entre R$ 10 e R$ 82. "O foco sempre foi trazer cervejas que não eram encontradas por aqui. As mais vendidas hoje são a Schornstein (foto ao lado), de Pomerode (SC), a Bierland, de Blumenau (SC) e a Erdinger, da Alemanha".

Vieira detalha a preferência dos clientes. "O estilo de cerveja mais vendido sem dúvida é o Indian Pale Ale (IPA), estilo inglês que se popularizou nos Estados Unidos e virou febre no mundo". Essa variedade era substituída por água pelos navegadores ingleses que iam em direção às Índias. "Eles levavam cerveja ao invés de água, pois a água estragava muito facilmente. Descobriram que uma cerveja encorpada com bastante lúpulo tinha maior durabilidade e poderia substituir a água".

Segundo Vieira, depois das Pale Ale, as cervejas de trigo, conhecidas como Weiss, são as mais vendidas. "Considero as Weiss como a ponte entre os mercados de cerveja de massa e artesanal, pois muitas pessoas começam a se aventurar nesse estilo cheio de aroma e corpo, mas que não tem tendência ao amargor".

O proprietário da Casa do Chef acredita que o comportamento dos campo-grandenses está em transição. "Muita gente não sabe exatamente o que está bebendo. As cervejas chamadas pilsen pelo mercado de massa nem pilsen são. São Standard American Lagers e a maioria é composta de vários cereais não malteados como milho e arroz e muitos aditivos químicos, como antioxidantes e estabilizantes. As pessoas estão começando a entender o que é bom para o paladar, para a saúde, procurando marcas melhores e principalmente novos estilos de cerveja".

Para Vieira, a abertura de microcervejarias no Estado é um passo significativo para o crescimento do setor. "Isso vai facilitar o acesso a cervejas de boa qualidade. A formação de novos cervejeiros caseiros também é uma crescente que incentiva o consumo". Segundo ele, o principal incentivo para o mercado estadual, hoje, seria a redução dos impostos regionais. "Hoje a nossa substituição tributária é uma das mais altas do Brasil e isso faz com que o produto custe mais caro".

Na foto de cima, produção de cerveja estilo Imperial India Pale Ale e na foto de baixo, fogareiro e panela com termômetroO analista de sistemas Fernando Rech é apreciador de cervejas artesanais. Para ele, o mundo cervejeiro é vasto e o que falta é conhecimento do assunto por grande parte dos brasileiros. “São inúmeros tipos de cerveja. A maioria conhece somente um, que são as cervejas chamadas pilsen".

Rech se reúne com um grupo de amigos a cada 15 dias para trocar informações, degustar e produzir cervejas artesanais. “Já produzimos 12 estilos diferentes e nos encontros avaliamos qualidades e defeitos de cada cerveja. Os encontros são realizados na casa um dos meus amigos e é lá que guardamos os equipamentos e insumos para a produção. Hoje somos todos membros da Associação dos Cervejeiros Artesanais de MS (Acerva Pantaneira)”.

Rech explica que a produção com os amigos vai além. “Já participamos de concursos de produção de cerveja. Um deles foi o da Eisenbahn. Neste ano estamos participando e concorrendo com uma cerveja da escola belga”. A bebida escolhida como vencedora será comercializada pela marca e parte dos lucros será repassado aos cervejeiros criadores. “O bacana de participar de um concurso é mostrar que o cervejeiro caseiro pode produzir um produto de qualidade, com os mesmos aspectos das grandes indústrias, além do incentivo que é o prêmio, claro”.

Segundo o analista de sistemas, a legislação das cervejas no Brasil impede a produção sustentável. “Temos intenção de comercializar o que produzimos, mas infelizmente nossa legislação não permite uma produção em menor escala”. Os preços mais elevados com relação às cervejas produzidas em larga escala é o que, segundo Rech, impede de maneira significativa o crescimento do setor. “O consumidor ainda se ressente em adquirir um produto mais caro. É um processo lento. O entendimento de que esse tipo de produção é mais cara por ter mais qualidade e maiores custos leva algum tempo”.

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