O projeto para reativação do Auto Cine de Campo Grande foi debatido este mês em reunião feita na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) entre o reitor da instituição, Marcelo Turine e representantes do Serviço Social do Comércio de Mato Grosso do Sul (Sesc MS). Sem recursos financeiros, a UFMS procura parcerias para que o projeto seja concretizado. O objetivo é reutilizar os espaços para proporcionar cultura e lazer aos acadêmicos e o público em geral.
Depois de 27 anos fechado, a reativação do cinema drive in está prevista no orçamento de 2017 da Universidade, Turine afirma que a instituição está sem verba para a realização do projeto. "O que a gente gostaria de fazer é a integração do Morenão, o Auto Cine, Teatro Glauce Rocha, Moreninho e Teatro-Escola. Mas, nesse momento, é inviável fazer investimento muito alto, porque o país está em crise econômica". Para ele, é fundamental apropriar os espaços que hoje estão abandonados. "Nosso objetivo é dar vida aos equipamentos que existem na Universidade. A questão da cultura e esporte é prioridade institucional e é o eixo transversal na formação dos nossos universitários e do cidadão para o mercado de trabalho".
De acordo com a assessora de imprensa do Sesc, Michele de Abreu o levantamento orçamentário para a reativação do Auto Cine será analisado pela instituição. "O Sesc recebeu a visita da UFMS, realizou vistoria nos locais e agora está estudando a viabilidade do projeto". Segundo o reitor, outros parceiros serão contatados. "Estamos avaliando o projeto e falando com vários parceiros para poder de alguma forma vislumbrar as possibilidades".
Em 1981, a nutricionista Mara Toledo, que tinha 17 anos na época, frequentava o cinema drive in com os amigos, por ser uma opção de lazer diferente. Para ela, a reativação é importante para Campo Grande resgatar a história e a cultura da cidade. "A gente tem que mudar um pouquinho, sair do cinema de shopping, onde começou uma degradação cultural, de que só a elite vai, porque é caro. As pessoas de baixa renda também precisam ser atingidas. O importante é abrir mais cinemas na cidade e reativar o Auto Cine, pra mim, é um belo de um recomeço".
Auto Cine na década de 70 (Foto: Edson Contar, )O cinema ao ar livre foi inaugurado em 1972, em área localizada atrás do Estádio Universitário Pedro Pedrossian, com estrutura para receber 128 carros, além de acomodar pessoas que chegavam a pé nas arquibancadas. No meio da pista, ficava a sala de projeção, onde projetores, movidos a carvão, transmitiam os filmes no telão de concreto. Logo no começo, o Auto Cine era administrado pela empresa Peduti, que fornecia e selecionava os filmes, além de dar uma porcentagem dos lucros mensais para a UFMS. Em 1983, o cinema passou a ser administrado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
De 1980 a 1987, o jornalista e cineasta Cândido Alberto da Fonseca trabalhou como programador do Auto Cine. "Decidi ir na sede da Peduti em Botucatu para fazer uma pesquisa e descobri duas coisas, bons filmes não vinham, alguns vinham a pedido do cineclube de Campo Grande, e a outra coisa que descobri é que eles não traziam filmes de conteúdo político, porque havia uma censura na própria empresa".
Projetor movido a carvão de 1971 (Foto: Rafaela Fernandes)O cineasta decidiu programar as sessões de filmes em diferentes ciclos, "A mulher no cinema", "Literatura no cinema", "A política no cinema", "A criança no cinema", para trazer temas sociais e políticos de diferentes locais do mundo como Holanda e Bulgária. "Eram bons filmes premiados, passavam no mundo inteiro e porque na ilha de Campo Grande não poderiam passar? Então comecei a passar esses filmes e você vai criando novas necessidades e o público era grande, tínhamos casa cheia a semana toda, só dia de chuva que não tinha muito público".
Para o cineasta, o Auto Cine reativado será um local de aprendizado, ensino e pesquisa para contribuir com a sociedade, além proporcionar lazer aos mais de 20.000 universitários de Campo Grande. "Qualquer atividade cultural no planeta beneficia direta ou indiretamente a sociedade, ela preenche uma necessidade que é invisível. Com o Auto Cine, a própria universidade cria condições para o aluno querer ficar ali dentro, além de toda a comunidade ser atingida, desde que a instituição tenha essa multi-ação e tenha cobrança social". Segundo ele, para o projeto funcionar na Universidade, precisa envolver projetos de extensão, ensino e pesquisa. "Fecharam o Auto Cine com a desculpa de que tinham que fazer obras, eles tinham um outro projeto para o local, mas até hoje está abandonado".

Estrutura atual do Auto Cine após 27 anos desativado - (Foto: Rafaela Fernandes)




