SEGURANÇA

Insegurança nos bairros próximos à UFMS aumenta entre moradores e estudantes

Ação da Polícia Militar é insatisfatória e desproporcional nos bares da região

Mylena Rocha, Nayla Brisoti e Thayná Oliveira23/08/2016 - 09h33
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Estudantes e moradores da região da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) estão inseguros devido aos relatos de roubos e furtos nos bairros próximos aos bares frequentados pelos universitários, que são compartilhados por colegas nas redes sociais. A Polícia Militar (PM) realiza eventualmente ações para desobstrução da rua Trindade, principal via de acesso da região ao centro da cidade.  O Batalhão de Choque da Polícia Militar, nas situações em que foi acionado, utilizou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar as pessoas que se encontravam no local. A atuação é controversa e questionada pelos moradores e estudantes que não veem efeito na segurança do bairro.

O aluno da Universidade de Brasília (UnB), Jefferson Douglas, veio para Campo Grande cursar Jornalismo na UFMS por meio do processo de mobilidade acadêmica. Ele foi assaltado na rua Marcílio Dias, próxima aos bares, na manhã do último dia 15. O estudante de Engenharia de Produção, Guilherme Gomes foi vítima de ação armada na região, em junho deste ano. É a segunda vez que ele sofre abordagens deste tipo. Em novembro do ano passado, foi agredido na rua onde estão localizados os bares, em uma tentativa de assalto. A designer de sobrancelhas, Sandra Espíndola teve a casa invadida há cerca de um mês. Segundo ela, os ladrões destruíram a cerca elétrica e furtaram pertences do local onde costuma atender suas clientes.  "Viajar nem pensar. Se for viajar tem que deixar alguém cuidando da casa, porque está complicado". Ela diz que não fez o boletim de ocorrência porque os objetos furtados não eram de valor.

O estudante de economia na UFMS, Matheus Carrara, foi assaltado na região e relata insatisfação com a segurança no bairro. “A atuação da polícia no meu modo de ver não é satisfatória. Se fosse satisfatória não sentiria receio e medo de andar sozinho pela região próxima à universidade. Os estudantes que moram próximos à UFMS veem mais os policiais interrompendo a nossa confraternização de sexta-feira nos bares da faculdade do que durante a semana onde acontecem os assaltos”. Jefferson Douglas diz que falta segurança na região, as ruas são mal iluminadas e o local é perigoso.  “Não tinha essa ideia de quanto era perigoso, até ser assaltado às nove horas da manhã”.

Segundo o Major do 6º Comando Independente da Polícia Militar (CIPM), Anderson Avilar o índice de assaltos na região diminuiu e o período de maior número de ocorrências foi no fim do ano passado. Ele diz que a PM trabalha de acordo com as estatísticas e sem o boletim de ocorrência, não há como atender a região.  "Se não tem a estatística, não há crime. O cidadão às vezes é roubado e não registra, não vai na delegacia registrar ou não liga nem no 190 e aí nós não temos essa estatística”. O 6º CIPM é responsável por 112 bairros da capital, entre eles os do entorno da universidade. O Major ressalta que a PM tem intensificado as rondas e abordagens policiais e que no mês de julho 3817 pessoas foram abordadas nas regiões próximas à universidade.

Dona do Restaurante da Lenir, ou “Bar da Tia”, como é conhecido, Lenir dos Santos Soares diz que com exceção das sextas-feiras, não costuma ver rondas da polícia no bairro. “Eles passam mais na sexta-feira, mas eu não vejo a polícia passar aí assim, não vejo”. Desde março do ano passado, a Polícia Militar e o Batalhão de Choque têm atuado nos bares próximos à UFMS e segundo relatos dos donos dos bares e frequentadores do local, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo são usadas para dispersar as pessoas que se encontram no local.

A dona dos bares Batata + e Atléticas Beer, Grazielle Soares, ressalva a diferença entre as ações da polícia. “A PM é tranquila, ela é passiva, ela chega para organizar, ela não chega para atacar. O choque só chega para atacar. O choque só chega para acabar com tudo, ele chega acabando, em cinco minutos ele acaba com tudo”. Grazielle Soares acredita que não é necessário violência para abordar os clientes e que na última ação do Batalhão era fim de noite e as pessoas estavam na área do bar, sem invadir a rua. Também relatou que o toldo de lona do estabelecimento foi danificado no dia da ação e que ela teve prejuízos.

O tenente-coronel comandante do Batalhão de Choque, Marcos Paulo Gimenez, afirma que a área é alvo de denúncias no 190, devido a "bagunça" e som alto. Segundo ele, a última ação nos bares ocorreu após mais de 100 ligações de vizinhos e porque os clientes se recusaram a desobstruir a via. “Chegando lá os dois policiais foram recebidos com vaia, foram recebidos com lançamento de garrafas, com lançamento de copos de cerveja e então eles pediram o apoio para o Batalhão de Choque”.

O dono do Bar Escobar, Onivaldo Mandacari, explica que nesta última ação do Batalhão de Choque houve confusão por causa da comemoração do pênalti do jogo de futebol com resistência à polícia e por isso reagiram. Assim como Grazielle Soares, ele afirma que era fim de expediente e haviam poucas pessoas no bar.

O estudante Matheus Carrara relata que presenciou uma das ações do Batalhão nos bares universitários e acredita que deveria haver um diálogo entre os estudantes e a polícia. “Esse tipo de ação, como do dia que eu estava, no meu modo de ver, é totalmente indevido. O diálogo e o bom senso devem ser prioridade, não a violência. Existem formas de melhorar o inconveniente melhor do que a força de policiais fortemente armados contra universitários indefesos”.

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