A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur) criou um projeto para tirar as feiras livres das ruas e transferi-las para praças ou áreas públicas, devido o congestionamento que causam no trânsito em dias de montagem. Segundo a Prefeitura, o modelo do projeto segue o da Orla Morena, que acontecia na rua e era conhecida como Feira do Cabreúva.
Para o presidente da Feira da Orla, Abrão Alves Bezerra, essa medida pode trazer melhorias. “Se for uma praça onde vai haver integração da sociedade com a feira, vai ser muito bom. Principalmente pra sociedade, porque tem praça que não tem movimento, então traria mais vida. E uma feira não precisa necessariamente ocupar todo o espaço da praça". A feirante Maria das Neves que além de ter uma barraca na Orla, tem também em outros bairros como a do Guanandi, uma das mais conhecidas. Não está adepta à mudança, “não fica bom não. Perde o sentido, eles estão tirando a tradição da feira. O nome mesmo diz, feira. Feira é na rua!”.
O diretor da Semadur, Waldiney Costa da Silva garante que as áreas das praças serão revitalizadas e darão toda a assistência para os feirantes. Em Campo Grande, existem 54 feiras formalizadas na Prefeitura que estão espalhadas por diversos bairros da cidade. conforme relata o feirante Bruno dos Santos que monta sua barraca em seis bairros, uma em cada dia, exceto nas segundas-feiras.Elas acontecem uma vez por semana em cada região, Aos domingos, entre as sete da manhã e meio dia, ocorrem as dos bairros Universitário e Guanandi, que são as mais conhecidas.
A Secretaria Municipal de Campo Grande informa que para conseguir montar uma barraca nas quadras reservadas para feiras, é preciso comprar o espaço no valor de 50 reais a cada dois metros e meio, como “ocupação de terra”. Além da compra, os feirantes pagam um alvará anual de funcionamento e precisam cumprir os dias de funcionamento da feira, em cada região,porque se não perdem o “terreno” e outra barraca entra no lugar.
A feirante Maria Aparecida Moreira possui dez metros de barraca e vende calçados há mais de 20 anos com a nora, Marta Fernandes. Maria Moreira revela que participa no local “desde quando isso tudo aqui era terra; criei meus filhos tudo na feira, isso aqui tem história”.
O verdureiro Afrânio Kakazuo, está na feira há mais de 70 anos e vende os produtos cultivados em sua própria horta. Ele diz que herdou a habilidade do pai e que não se vê em outra atividade. A feirante Edma Ferreira está há 6 anos com sua barraca de salgado no Universitário. A filha, Bruna Nantes de 15 anos, diz que é muito bom ajudar a mãe, “é divertido a gente tem bastante amigo, às vezes eu saio um pouco pra passear e conversar com eles”.
No Guanandi, são 15 quadras de verduras, frutas, roupas, brinquedos e artesanatos. Segundo o morador aposentado Delci Pereira Ribas, que mora no bairro há 43 anos, a feira chega a ter um quilômetro. Ele também revela que acompanhou o início da feira quando chegou na capital, em 1974. “Foi uma cuiabana que montou uma banquinha pra vender mandioca e através dela foi espichando. Eu lembro bem, ela já era uma senhora de idade, coroa morena e gordinha. Que falava alto: isso aqui vai ser a feira!". Derci Ribas ainda relata que muita coisa mudou desde então, o número de frequentadores diminuiu, por isso boa parte da feira não existe mais.
Por ser mais conhecida, a Feira do Guanandi, atrai não só moradores como também pessoas de todos os lugares. O espanhol Manoel Melendes e sua esposa Vera Lúcia, por exemplo, faziam uma pesquisa de preços para um estabelecimento que pretendem abrir. Após isso, eles chegaram a conclusão de que comprar no mercado é muito mais viável. “Porque na feira é muito caro. Deveria ser mais barato, pois teoricamente toda essa gente é produtora de horta. Tomate você vê por 5 reais, você vai pra fora e compra por 2,50. O pimentão é um real, um único. No mercado, as vezes, é quarenta centavos o quilo. Normalmente as pessoas acham que é mais barato, mas estão equivocadas”. Sua esposa Vera Lúcia completa “aqui encontramos dificuldade porque não tem por quilo, peso, só encontra de bolsinha e é mais caro que ir ao mercado central, por exemplo, e comprar por quilo”. O motorista Leandro Silva acredita que na feira é mais barato e que prefere comprar verduras lá ao invés das mercearias. Ele diz que frequentava feira do Guanandi todos os domingos com os sobrinhos para passear. “É um bom lugar para trazer as crianças, nós lanchamos, brincamos e passeamos por tudo”.
De acordo com o diretor da SEMADUR, Waldiney Silva o projeto da prefeitura prevê realização de eventos culturais e musicais nos locais onde as feiras acontecerão. Os feirantes são orientados a montar uma associação em cada Feira com o objetivo de escolher um representante para negociar essas questões.






