O número de acidentes causados por escorpiões em Mato Grosso do Sul dobrou nos últimos quatro meses em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com informações da coordenadora do Setor de Animais Peçonhentos do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Juliana Resende foram atendidas 227 pessoas picadas por escorpiões entre abril e julho deste ano em comparação com 119 indivíduos no mesmo período do ano passado. Cerca de 500 pessoas procuraram atendimento para tratamento no Centro durante o primeiro semestre de 2019.
De acordo com o biólogo e professor do curso de Biologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Malson Neilson o tempo quente e seco do início do ano até junho é um dos fatores para o aumento de incidentes com escorpiões porque os animais entram em residências e terrenos em busca de umidade. “Eles também têm mais disponibilidade de alimentos porque suas presas, como as baratas, se multiplicam mais no calor. Além disso, seus predadores de maior porte como corujas e aves se escondem mais nesse período do ano”.
Segundo Neilson, em Mato Grosso do Sul há aumento anual no registro de acidentes provocados por escorpiões durante essa época e a região se tornou um dos 10 estados do país com mais ocorrências devido ao processo de urbanização. “Na região Centro-Oeste já é o segundo, passou Mato Grosso, que é maior em área do que Mato Grosso do Sul. Só perde para Goiás por enquanto, mas em 2018 os números já foram próximos e com o mesmo número de óbitos, quatro. Aqui vem se tornando uma região com bastante focos, provavelmente pelo aceleramento que a região experimenta”.


Neilson afirma que os escorpiões possuem capacidade adaptativa para sobreviver na zona urbana e que o aumento no número de queimadas pode ser responsável pelo crescimento das ocorrências com escorpiões. “Quando você faz a queimada, você empurra ele da zona rural, porque quando você queima você destrói até o lixo. Ele sai de lá e vai ser empurrado pra zona urbana, tanto que na periferia tem bastante, porque lá não tem saneamento básico e tem acumulo de lixo. Os animais vão chegar primeiro por lá. E quando você queima, ainda aumenta o calor que favorece o escorpião”.
O médico e coordenador do Centro Integrado de Vigilância Toxicológica (Civitox) da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Sandro Benites afirma que o Centro adotou novas medidas para atender a população em decorrência do aumento de incidentes com escorpiões. “Antes prestávamos assistência médica diretamente ao paciente, hoje a gente também passa a informação por telefone e nos casos mais graves os dois médicos vão até onde estão os pacientes, seja hospital público ou privado, unidade de saúde básica ou avançada. Nas UPAs por exemplo a gente sempre tá atendendo”.
De acordo com Benites, o cuidado precisa ser redobrado com crianças porque a ação do veneno é maior em decorrência do peso, da superfície corpórea e da fisiologia infantil. “Acidentes com animais peçonhentos são mais comuns com o trabalhador do sexo masculino que é o trabalhador rural. Mas como o escorpião virou uma praga urbana, a gente tem caso em criança, homem, mulher. Os mais graves sempre são em crianças abaixo de 10 anos. Todos os óbitos, todas as mortes que tivemos em MS foram em crianças abaixo de 10 anos”.

A moradora do bairro Moreninhas I Suzana Barros seu mudou para Campo Grande há 11 anos e afirma que nos últimos dois anos houve crescimento no número de insetos na sua vizinhança e em sua residência, local onde foi picada por um escorpião em 2018. “Pelo que eu vejo tem aumentado muito o número de escorpiões por aqui, já matamos vários. Ano passado, nessa mesma época, eu estava sentada aqui no quintal, senti uma dor no tornozelo e fiquei achando que era aranha. Depois achamos o escorpião nas plantas, mas a gente não sabia muito o que fazer, fiquei desesperada e fomos correndo pro médico".
Suzana Barros relata que outros casos ocorreram na família e que um terreno abandonado no bairro é um dos motivos que podem explicar a proliferação de escorpiões na vizinhança. “Há uns três meses nossa sobrinha veio visitar a gente e foi picada, mas a gente já sabia o que fazer e deu tudo certo. O pessoal aqui da região sempre teve muito medo até porque o terreno aqui nessa quadra, vive cheio de mato, cheio de entulho e poluição. É um terreno grande que vive cheio de animal, já deu outros problemas também como a dengue”.