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Detentos do regime semiaberto da Capital participam de projetos para redução de pena

Programas oferecidos pela Agepen têm a participação de cerca de 32% da população carcerária de Mato Grosso do Sul

Ketlen Gomes, Lua Souza e Mariana Alvernaz24/05/2019 - 15h29
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Mato Grosso do Sul registra um dos maiores índices de trabalho prisional, cerca de 32% da população carcerária participa dos programas oferecidos pela Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen). Os presos do sistema semiaberto trabalham em obras de escolas, delegacias, hospitais e universidades, para diminuir o tempo de cumprimento da pena. A cada três dias trabalhados, o detento possui um dia reduzido da pena e recebe 90% do salário mínimo.

De acordo com o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira os projetos em que os "reeducandos" saem do presídio para trabalhar são exclusivos do regime semiaberto, com exceção de Jateí, Município de Mato Grosso do Sul. "Os detentos saem da detenção com um ônibus penitenciário e eles são acompanhados por agentes penitenciários". Conforme o diretor-presidente, existe um preconceito em relação à mão de obra de detentos pelas empresas, e para combater essa discriminação há palestras para mostrar benefícios e desmistificar o preconceito entre o empregador e o detento. "Hoje nós tentamos parceria com as empresas e fazemos diversas palestras, desenvolvemos cartilhas para mostrar o quanto é benefício para o empresário esta mão de obra".

As empresas parceiras do projeto têm a vantagem do contrato dos internos ser isento do regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ou seja, sem o pagamento de encargos sociais como 13º salário, férias, Fundo de Garantia (FGTS) e hora extra. Os "reeducandos" só faltam se estão doentes ou têm audiência marcada. Para entrar no projeto, o preso precisa estar em regime semiaberto, é feita uma análise do histórico do detento e uma entrevista para decidir para onde serão encaminhados.

O projeto "Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade" utiliza a mão de obra dos detentos para a realização de reformas nas escolas públicas do Estado. Os "reeducandos" revitalizaram dez escolas por meio do programa. O projeto é coordenado pela Agepen em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso do Sul e o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Segundo o diretor do Centro Penal Agro Industrial da Gameleira de Regime Semiaberto, Adiel Rodrigues Barbosa um mês antes das obras começarem, ele visita as escolas e explica como serão realizados os trabalhos de reforma. Barbosa explica que nunca teve problemas com os internos e as escolas.

As obras executadas são custeadas com 10% dos salários dos presos, que recebem um salário mínimo pago pela Secretaria de Educação do Estado, que também custeia o transporte dos detentos para os locais de trabalho. Segundo Barbosa, é realizado um orçamento do projeto, enviado para a Agepen que encaminha para o juiz Albino Coimbra Neto, idealizador do programa, que faz a liberação do valor para a compra dos materiais necessários.

Além das escolas da Capital, outros locais receberam a mão de obra dos internos, como o Hospital São Julião, APAE, Hospital Nosso Lar, Presídio Militar e 4º DP do bairro Moreninha. O diretor do presídio afirma que são 50 convênios com a Gameleira. Uma das instituições em que os "reeducandos" trabalham é a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), que tem parceria com o Conselho da Comunidade para atividades de limpeza, pintura, entre outras tarefas.

Segundo a coordenadora da Secretaria Especial de Comunicação Social e Científica da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Secom/UFMS), Rose Pinheiro o contrato contribuirá com a ressocialização dos detentos e gerará uma economia média de R$ 300 mil por ano para a Universidade. Ela afirma que o programa assegura custos reduzidos, pois a mão de obra representa metade dos gastos em contratos terceirizados e esta é a vantagem da adesão ao projeto.

O "reeducando" Anderson Cabral da Silva trabalha na área da limpeza da UFMS e afirma que há uma seleção para escolher quem vai poder trabalhar. "É feita uma filtragem de pessoas para estar aqui, não é qualquer um, a gente passa até por psicólogo, temos que ter bom comportamento". Ele está há seis meses no regime semiaberto e somente após cinco meses conseguiu emprego. "Hoje eu quero pagar o que eu devo e viver minha vida com a minha família".

Emerson Luiz Ostan também trabalha na Universidade. O interno comenta que há uma discriminação pelo fato de serem detentos. "Logo quando começamos a trabalhar aqui aconteceu alguns roubos de bicicleta e já vieram culpar a gente". Para Ostan, o projeto ajuda quem realmente quer mudança.

 

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