SISTEMA PENITENCIÁRIO

Grupo de amigos realiza ação beneficente para promover autoestima em presídios

Cursos de estética e kits de higiene arrecadados pela ação do grupo promovem auto estima de detentas em presídio feminino

Bárbara Cavalcanti, Isadora Leiria e Larissa Pestana 5/12/2016 - 13h44
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Grupo de amigos de Campo Grande liderado pelo estudante de letras da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Daniel Machado realiza evento para ajudar os internos de penitenciárias da capital. Presídios como o Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi recebem kits de higiene doados mensalmente pela Casa Civil do Governo do Estado. De acordo com a diretora do Estabelecimento Penal, Mari Jane Boleti Carrilho eventos beneficentes como este são uma alternativa para aumentar o número dos produtos fornecidos para a população carcerária.

Segundo o presidente da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Ailton Stropa Garcia os kits de higiene básica, que contêm absorventes íntimos, creme dental, sabonetes, papel higiênico, escova dental e esponja para banho são entregues à comunidade carcerária. Garcia afirma que mesmo com o auxílio do Governo do Estado, as doações de itens de higiene básica são necessárias e a Agepen aceita todas as doações “É imprescindível para o asseio das internas, sendo todas conscientes da importância de se manterem limpas para o próprio bem-estar e para manter o corpo saudável”. Os familiares que entregam os kits nas unidades penais são orientados a levar os objetos em sacos transparentes para facilitar a vistoria.

A interna Valdineia do Carmo de Souza afirma que nem todas mantêm hábitos de higiene no presídio. “Quando a gente faz uma coisa que é ilícita, que é errada, a gente sabe que a gente vai poder um dia parar nesse lugar [na cadeia]. Mas tem gente que às vezes fica meio… Dá aquele impacto assim, elas já não querem mais saber de se cuidar”.

Segundo a interna Fabiana*, após sua chegada ao estabelecimento demorou muito para que ela percebesse que precisava manter hábitos saudáveis, mesmo dentro do presídio. “Eu fiquei um mês e 20 dias sem me cuidar, sem nem comer direito. Daí comecei a trabalhar lá dentro e ter amizades e isso me ajudou a me reerguer”.

Valdineia de Souza está  detida pela segunda vez na instituição e afirma que muitas pessoas que chegam ao estabelecimento mudam de comportamento quanto à higiene e vaidade. “Já vi muitas meninas deixarem de ser o que elas eram, assim que se arrumavam muito, sempre saíam bem. Já conviviam comigo e eram sempre bem arrumadas, e chegar aqui e se desleixar com o cabelo, desleixar com usar um batom, não passar um creme. A gente gosta né, mulher gosta. Mas tem mulher que eu já vi passar por isso, sofrer mesmo”.

Segundo a diretora do Estabelecimento Penal, Mari Carrilho, a superlotação do local existe, mas atualmente não é problema para o instituto. Ela ressalta que os kits para as 334 internas não são suficientes, mas são essenciais, principalmente, porque muitas detentas não têm familiares na cidade ou no estado. "As próprias internas têm uma divisão, como um cronograma de quando cada uma pode se higienizar. Toda mulher tem a questão da vaidade, e a higiene é saúde, então é necessário".

No presídio feminino, são oferecidos cursos de estética em parceria com lojas de produtos de beleza e com apoio da Pastoral Carcerária da Igreja Católica. Em junho, foram entregues certificados para 35 internas, qualificadas para os trabalhos de manicure e auto-maquiagem. O presidente da Agepen, Ailton Garcia ressalta que sempre há oportunidades de melhorar o bem-estar das internas. “Além disso, a unidade realiza diversos eventos, como dias de beleza, sempre com o objetivo de melhorar a autoestima das internas”.

O estudante Daniel Machado faz parte de um grupo de voluntários que organizam eventos beneficentes com o objetivo de arrecadar kits para as unidades penais de Campo Grande. Segundo Machado, o grupo tem a intenção de atingir a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT), que sofrem com o preconceito dentro e fora dos presídios. “Temos o sentimento de que faltam eventos e festas, principalmente festas em Campo Grande que dialoguem com a comunidade LGBT para fora da festa, ou seja, que proponha algo que não fica delimitada apenas ao dia do evento e no local em que ele vai ser realizado, mas algo que consiga extrapolar as paredes desse evento e atingir sobretudo uma população que é marginalizada”.

Machado afirma que os kits são entregues aos institutos penais de maior necessidade, após a realização dos eventos. “Esse é um projeto que o Centrho já realizou anteriormente e a gente abraçou essa ideia por considerar ela boa e por considerar que de uma primeira ideia, uma ideia inicial, seria ótimo pra gente fazer, mas futuramente a gente pode dialogar até com o público que foi na festa pra ver possíveis novas ações e para conseguir realizar eventos que sempre dialoguem com o público marginalizado e que consigam ir além”.


 


Serviço: Agepen MS - Rua Santa Maria, 1307 - Monte Castelo

*Nome fictício para preservar a identidade da fonte.

 

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