JORNALISMO

Programas populares de TV mostram a cidade a partir das demandas dos bairros

Os programas fazem uma representação da cidade, focam na população e nos problemas dos bairros

Stefanny Veiga e Vivian Campos 8/06/2015 - 16h30
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Os Programas Cidade Alerta MS e o Povo na TV procuram retratar a cidade por meio da interação com a população quando recebem denúncias e reclamações pelo Whatsapp, forma utilizada para mostrar os problemas e atender as demandas das pessoas que assistem os programas em Campo Grande. A representação das cidades que é feita pela mídia é tema do projeto de pesquisa "Mídias, cidade e subjetivação do espaço urbano" do professor do curso de Mestrado em Estudos Culturais da Universidade Federal de Mato Grosso, UFMT, Yuji Gushiken. Ele afirma que para entender melhor como a cidade é exposta na mídia, deve-se estudar como movimentos e manifestações populares acontecem na cidade e não como é mostrado na mídia

O programa Cidade Alerta MS, apresentado pelo deputado e jornalista Maurício Picarelli, interage com o público pelo aplicativo whatsapp e isso reflete no aumento da audiência do programa. Segundo o apresentador, o público envia cerca de cinco mil mensagens por dia pelo aplicativo. De acordo com o editor-chefe do Programa, Paulo Sérgio da Silva, Picarelli sempre foi conhecido por apresentar programas jornalísticos de gênero policial, essa imagem mudou e hoje os programas apresentados por Picarelli são populares e as notícias são relacionadas aos bairros campo-grandenses e aos direitos do consumidor. O editor-chefe ainda explica “mostramos muito quais são os problemas do bairro, não é só o mato, não é só a rua que não tem asfalto, o buraco, é a violência também, como está funcionando o centro comunitário, se está tendo algum projeto feito pelo moradores, então são coisas que o bairro necessita e o bairro produz”.

No mesmo formato do Cidade Alerta MS, Picarelli também apresenta o programa Picarelli com você  na TV Record MS e apresenta notícias populares, denúncias e informações de utilidade pública. Para o apresentador, os programas mostram uma concepção que a população tem da cidade, que é de "insatisfação com a administração da capital, que está negligente com seus serviços". Picarelli ressalva que “o pessoal está numa agonia e indignação, porque a cidade me parece que está à deriva, a administração não consegue tapar buraco, colocar iluminação, limpar a cidade, problemas de saúde, de escola”.

De acordo com Picarelli, as mensagens que os telespectadores mandam pelo whatsapp ajudam a compor a pauta do programa. "Nos nossos programas, nós dependemos de notícias policiais, denúncias e reclamações, quem faz nosso programa é o povo, através do whatsapp mandam informações, mandam vídeos, mandam reclamações, conversam interagem, então a gente trabalha com a movimentação popular”.

O editor-chefe, Paulo Sérgio da Silva afirma que a linguagem simples e popular do programa é um ponto forte que contribui para a audiência e que mesmo com críticas eles reproduzem a forma que  população fala no cotidiano. “É uma linguagem mais direta, chega a usar até vícios de linguagem que a própria comunidade tem, em termos de linguagem a gente se aproxima muito da pessoa simples”. Maurício Picarelli afirma que a audiência é um sinal de satisfação do público com o programa. “Se tem uma grande audiência, é porque a população gosta do formato que nós fizemos, que é o de denunciar, de reclamar, de defender, de ser uma voz realmente, por que nós tralhamos no sentido de falar o que a população quer falar e não consegue”.

O apresentador do programa "O povo na TV", Atamaril Marques avalia a grande audiência de programas populares, "estamos falando com as famílias, assuntos relacionados a família, ao cotidiano dessas pessoas. A linguagem também é importante, porque as pessoas se sentem mais próxima da forma como você comunica algumas coisas, então isso acaba gerando uma a aproximação maior das pessoas que estão almoçando e chegando do trabalho". 

Atamaril Marques afirma que o programa é pautado pela relevância das notícias do dia, e que mesmo com caráter regional, quando algo muito importante acontece em outros países, também será noticiado. "Essa contribuição que a gente leva, de informar sobre assuntos da capital, do interior do estado, alguns nacionais e algumas coisas internacionais, a gente vai dando uma pitada em coisas relacionadas a isso". O apresentador comenta que hoje o que acontece no mundo rapidamente chega ao telespectador, e afirma,"hoje nós estamos totalmente globalizados, a internet permite você saber das coisas quase que simultaneamente, na hora que elas acontece, então por que não avisar do que acontece se a gente tem essa liberdade".

Para o apresentador o diferencial de seu programa é a liberdade com que o apresenta, expressa sua opinião sobre os assuntos pautados, e tem um bate-papo com quem o assiste. "O cara que está em casa também tem a opinião dele e quer falar, e nós abrimos para eles falarem, a gente abre ligação, a gente abre todos os mecanismo que a gente tem para ele falar". E comenta, "a grande hipocrisia do jornalismo é a imparcialidade, porque não existe jornalismo imparcial, eu tento, mas é complicado, é o grande desafio do jornalista no Mato Grosso do Sul, no Brasil e no mundo". Atamaril Marques afirma que o profissional deve ter cuidado com a forma que dá a notícia para não haver distorção, "o profissional deve tomar cuidado para não comunicar o que é inverídico". 

Professor Yuji Gushiken estuda a representação da cidade pela mídia

Professor da UFMT, Yuji Gushiken em palestra no Intercom

O professor e pesquisador de comunicação da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Yuji Gushiken apresentou a Conferência que  também é tema de sua pesquisa "Mídia, cidade e subjetivação do espaço urbano" no XVII Congresso de Ciências de Comunicação do Centro-Oeste (Intercom). Gushiken afirma que a representação que os jornalistas fazem da cidade  é uma questão que se inicia na formação universitária, pois é partir dos primeiros semestres que o acadêmico aprende a analisar questões sociais sob diferentes perspectivas. Segundo Gushiken, a formação teórica do estudante de jornalismo será a base para que, depois de formado, o jornalista analise as manifestações populares e as reproduza como realmente são, sem que haja distorções. “A partir dessa formação, ele vai dizer se aquilo [manifestações populares] é festa ou se aquilo é política, então isso depende muito não só da política editorial da imprensa que em geral tem que ser conservadora, mas depende muito também da formação intelectual do jornalista”.

Yuji Gushiken afirma que para entender melhor como a cidade é exposta na mídia, deve-se estudar como movimentos e manifestações populares acontecem na cidade e não como é mostrado na mídia. "Se a gente for ficar rebatendo o modo como a mídia representa as minorias, vamos chegar sempre à mesma conclusão, de que a mídia é conservadora e os jornalistas não estão muito atentos às consumações do mundo contemporâneo. Nos interessa muito mais diretamente pensar o seguinte, como eles se representam na rua, o corpo na rua, a ideia de confrontar a sociedade e não como a mídia os representa. Então, por isso a nossa opção de estudar diretamente o campo da cultura, exatamente para que o estudante de comunicação já saia com uma visão de mundo, digamos assim, uma outra opção de estudar diretamente o campo da cultura, exatamente para que o estudante de comunicação já saia com uma visão de mundo, digamos assim, um outra opção de enxergar o mundo"

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