Vídeo de divulgação da nova casa noturna Valley em Campo Grande (MS) provoca discussão sobre marketing de objetificação da mulher. Divulgado no perfil oficial da empresa na rede social Instagram, o vídeo provocou debate nos comentários do aplicativo sobre a utilização da imagem feminina como forma de atrair o homens para o local. Na postagem, a opinião do público ficou dividida sobre a real intenção do material divulgado.
Nos comentários, alguns internautas defenderam a casa noturna com o argumento de que este tipo de marketing reflete a realidade do sertanejo e que o incômodo com o vídeo é implicância. Do outro lado, alguns comentários fazem críticas sob a alegação de machismo e da utilização da imagem feminina como objeto e forma de atrair o público masculino. Algumas frequentadoras elogiaram o novo espaço e comentaram a decepção com o vídeo.
Crédito: Reprodução da internet
A estudante do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Ana Luisa Lopes de Lima frequentava a casa noturna até a polêmica nos comentários. Ela se sentiu objetificada e acredita que a população sul-mato-grossense precisa melhorar o pensamento e tratamento em relação à mulher. “O que causou polêmica foi a objetificação feminina em pleno século XXI, em 2018, onde não se faz mais publicidade dessa forma. Não se vê a casa direito, só uma ou outra bebida, mas mulher se vê o tempo todo. Parece propaganda de cabaré ou de uma casa noturna só desse público”.
O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) realizou a pesquisa O Perfil de Consumo das Mulheres Brasileiras em 2017 com amostra de 810 respostas. No levantamento, 58% acreditava que as propagandas retratam a mulher de forma irreal. Entre as brasileiras que responderam o questionário, 59,6% acreditam que elas são muito diferentes fisicamente na realidade; 32,1% se veem como objetos sexuais e 29,5% consideram que são sempre mostradas felizes em famílias perfeitas.
Enquete feita por meio de formulário do Google Forms disponibilizado na internet do dia 25 de setembro a seis de outubro e reuniu o total de 51 respostas. O objetivo do questionário foi analisar as principais fontes de informação das mulheres campo-grandenses e como avaliam, de modo geral, a representação feminina na publicidade.
A professora do curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Zaira de Andrade Lopes afirma que constituiu-se um entendimento do que é ser mulher, seu papel e lugar na sociedade ocidental e está atrelada a hierarquia do feminino e do masculino. “O homem tem uma posição de destaque e superioridade nas relações de poder e a mulher foi constituída na representação social como ser inferior, que está a serviço e a disposição do masculino. Isso, de certa forma, gera a mulher como um ser para embelezar, decorar, voltada para o afeto, para o cuidar, e principalmente, como um objeto de posse do masculino”.
Outra estratégia para atrair mulheres para espaços de entretenimento é a diferenciação de preço do ingresso entre público masculino e feminino. Geralmente nestes estabelecimentos, mulheres têm entrada gratuita até 00h00 ou valor com diferença entre R$ 10,00 a R$ 20,00. Em alguns casos, são oferecidas bebidas, como rodadas de tequila e open catuaba para grupo de amigas.
Nenhum representante dos estabelecimentos se pronunciou sobre o marketing utilizado nos materiais de divulgação.
O coordenador de Atendimento, Orientação e Fiscalização da Superintendência para Orientação e Defesa do Consumidor de Mato Grosso do Sul (Procon-MS), Rodrigo Vaz afirma que a prática de diferenciação de preço era ilegal conforme a nota técnica nº 2/2017, emitida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. De acordo com Vaz, a cobrança está em processo de avaliação e a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) recomenda aos órgãos estaduais aguardarem o parecer final para autuar os estabelecimentos.
Segundo o superintendente do Procon-MS, Nikollas Breno de Oliveira Pellat os estabelecimentos e comércios têm autonomia de acordo com o princípio da livre iniciativa de mercado e o órgão fica impossibilitado de interferir na determinação de preços. “Legalmente, a diferenciação de preço traz insegurança. Não tem justificativa para ser diferente. Se for para atrair mais este público, vender mais barato para elas ocasionará em mais mulheres e, consequentemente, irá atrair mais homens no local e eles vão consumir, pagar bebidas. É uma questão cultural”.