Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais da metade das mortes no trânsito ocorrem entre pedestres, ciclistas e motociclistas, que são usuários vulneráveis das vias. Ivanise Rotta afirma que esse problema acontece devido ao excesso de velocidade dos veículos. "O maior problema do trânsito aqui é a velocidade, as pessoas morrem no trânsito por estarem acima da velocidade permitida, se o limite de velocidade da via é 50 km por hora, o motorista tem que andar nesse limite, se a via aponta essa velocidade é para a segurança de todos”.
Congestionamento versus pontos de lentidão
Segundo o gerente de Fiscalização de Trânsito da Agetran, Carlos Guarani o trânsito da capital apresenta pontos de lentidão que variam entre três a cinco minutos com o veículo parado. “Campo Grande não possui congestionamento, mas sim trânsito lento. Ficar parado durante cinco minutos em um semáforo não é congestionamento, mas ficar parado durante horas como em grandes metrópoles, isso é congestionamento”.
Hora do rush são aqueles momentos do dia onde em que há mais carro nas vias do que em momentos de circulação normal. Para Guarani, esses horários de maior fluxo ocorrem no início da manhã e no final da tarde. “Em horários de pico o quantitativo de carros aumenta de 30% a 40%. Na manhã pais levando filhos para escola, se dirigindo para seu trabalho e a tarde fazendo o inverso”.
Para o gerente de fiscalização, algumas vias possuem movimentos mais intensos do que outras, por exemplo a avenida Afonso Pena. Guarani diz que as ruas que fazem ligações entre bairros e centro enfrentam problemas com o trânsito lento. O gerente exemplifica que a rua Ana luiza de Souza, que liga a região do bairro Anhanduizinho ao centro, é uma das vias arteriais que possui lentidão em alguns momentos do dia.
O motorista de aplicativo, César Batista explica que o trânsito lento dificulta na mobilidade de um serviço para outro, e como consequência prejudica no ganho financeiro. Nos horários de maior intensidade de trânsito, a espera no trânsito chega a 20 minutos em locais movimentados como as avenidas Afonso Pena e Mato Grosso.
O prestador de serviço de entrega de alimentos, Alexandre Leão relata que o trânsito prejudica seu trabalho, pois demora a realizar suas entregas, devido os horários de maior fluxo, principalmente nas vias de trânsito intenso. De acordo com Alexandre Leão, as políticas públicas para o trânsito deveriam investir mais em sinalização.
Campo Grande em duas rodas
O coletivo Bici nos Planos - CG surgiu em 2018 com objetivo de criar políticas públicas para tornar a bicicleta um meio de transporte seguro no trânsito de Campo Grande. O movimento resulta da campanha nacional Bicicleta nos Planos, criada para estimular as pessoas a utilizar bicicletas como forma de locomoção.
De acordo com levantamento da Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano, Campo Grande possui 84km de ciclovias. A bióloga e cicloativista Cintia Possas avalia que a estrutura de ciclovias é insuficiente para garantir a segurança do ciclista. “Campo Grande não é uma cidade amiga da bicicleta, e o motorista não sabe que ao ultrapassar uma bicicleta na via, a distância mínima deve ser de 1,5m. Ao observar a ciclovia da Afonso Pena em zigue e zague fica nítido que quem planeja a cidade não pedala, ela foi feita para turismo e não para o trabalhador que precisa de velocidade na via”.
Segundo o Código Brasileiro de Trânsito (CTB), ciclistas têm o direito de circulação pelas ruas e prioridade sobre os automotores. As vias de Campo Grande possuem velocidade máxima de 50km/h. Cintia Possas ressalta que a falta de respeito aos limites de velocidade dificulta a adesão às bicicletas. “Campo Grande não tem faixa rápida e os carros excedem muito a velocidade. De acordo com o documento Gestão de velocidade da Organização das Nações Unidas (ONU), quando uma pessoa é atropelada a 64km/h ela tem apenas 15% de chance de sobrevivência. Por isso nós buscamos a diminuição da velocidade nas vias”.