Pessoas em situação de rua de Campo Grande foram foco da campanha “Onde a Esmola Acaba, o Direito Começa” promovida pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS) para orientar moradores de Campo Grande a não fazer doações ao serem abordados por pessoas que moram na rua. O atendimento a esses indivíduos é feito pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP). Segundo o coordenador do Centro, Artêmio Miguel no mês de maio foram feitos 152 atendimentos com uma reinserção familiar.
Artêmio Miguel afirma que a Secretaria segue as diretrizes da Política Nacional para a População em Situação de Rua, instituída pelo Decreto 7053/2009 I. “Considera-se população em situação de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular”.
Em Campo Grande, o Centro POP oferece alimentação, oficinas, recuperação de documentos, lavanderia, atendimento psicológico e jurídico para pessoas em situação de rua. Os usuários do serviço chegam na instituição às 8 horas e às 16 horas são encaminhados para o Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante (CETREMI). Segundo o coordenador do POP, Artêmio Miguel é direito da pessoa se manter na rua e há dificuldade da população em entender esse fator. “A assistência social faz o oferecimento desse serviço, a pessoa pode aceitar ou não”.
De acordo com o relatório mensal da Ação Integrada e Continuada de Atendimento, 80 a 90% das pessoas em situação de rua de Campo Grande fazem uso de substâncias psicoativas e Artêmio Miguel explica que os indivíduos abandonam o atendimento e voltam para as ruas pela abstinência das drogas ou do álcool. “Para esse público é exigido tratamento, que é encaminhado para a saúde, mas mesmo assim atendemos essa pessoa dentro da nossa unidade”.
Artêmio Miguel explica que a Secretaria de Assistência Social pede que as instituições de caridade municipais façam suas ações no Centro POP, pois estas atividades são pontuais e não contribuem para a vida da pessoa em situação de rua a longo prazo. A colaboradora do projeto social da Igreja Batista Yeshua Hamashia, Rosa Maria Batista acredita na importância desta ação e ressalta a ocasião que ajudou uma mulher desabrigada que estava em seu bairro, a Coophatrabalho. "Ela não tinha família e estava em situação de risco pois tinha uma deficiência mental. Vivia suja, ficava jogada por ali, correndo riscos."
O doutor em Antropologia e professor do curso de Ciências Sociais da UFMS, Antonio Hilario, explica que o ato de dar esmolas é tradição da cultura paternalista e cristã. "Era uma virtude dar esmolas para alguém, e isso acabou gerando uma pendência nessas pessoas." Hilario ressalta que Estado deve zelar pelos direitos básicos destes indivíduos. "O Estado se omite de criar politicas públicas de resolver os problemas da mendicância, então fica essa relação duplamente doentia."
Neuza Ferreira recusa fazer doações quando abordada por pessoas em situação de rua. “Porque tem muita gente que não precisa e pede. Quando eu vejo que a pessoa precisa, pergunto se a pessoa vai comer com o dinheiro e dou.” A estudante Amanda Barbosa doa sempre que pode. “Não acho que essa seja uma medida que vá mudar a vida da pessoa, mas naquele momento, vai ajudar.”
O mestre de obras Rogério Pereira relata que faz perguntas à pessoa em situação de rua antes de doar ou não. “Infelizmente, tem que julgar pela aparência”. A cozinheira Elizângela Souza afirma que a campanha é válida se houver proteção para pessoas em situação de rua. “Se a prefeitura tiver um projeto para amparar essas pessoas, vale à pena, se não, não compensa. Pois a população fica à mercê de bandidos e é complicado.” Manoel Aparecido alega que só faz doações em dinheiro quando a pessoa possui deficiência. "Eles pegam para comprar bebida alcoólica, se pedirem um salgado ou uma marmita, eu dou.”