VIOLÊNCIA

Aumentam casos de violência na região da Orla Ferroviária

Abandono no local causa crescimento da violência e menor número de atividades culturais

Alexandre Kenji, Ana Carolina Planez e Maria Luiza Pereira25/09/2017 - 17h19
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A Orla Ferroviária, inaugurada em 2012 na gestão do ex-prefeito de Campo Grande, Nelson Trad Filho, deixou de ser frequentada pela população. A falta de segurança, investimentos em atividades culturais e manutenção da infraestutura local levaram aos recentes casos de vandalismo, furtos e dependentes químicos na região, que se estende da Avenida Mato Grosso até a Avenida Afonso Pena. No início do mês, um vagão localizado na Rua Barão do Rio Branco foi incendiado, servia como moradia para uma pessoa em situação de rua. 

Entorno da Orla também é afetado pela falta de segurança. (Foto: Ana Planez)

A coordenadora de eventos artísticos na capital, Mara Rojas organiza saraus na Orla Ferroviária com o objetivo de fomentar a cultura e a preservação histórica do local. Para os eventos, Mara Rojas solicitava apoio da prefeitura, na gestão do ex-prefeito Alcides Bernal, para providenciar banheiros químicos, equipamentos de som e segurança local. "A guarda municipal, na época, fez abordagens sistemáticas durante um período, tanto que pegaram várias armas e apreenderam drogas. Pensamos que a visibilidade do Estação Urbana faria a prefeitura agilizar um projeto de revitalização no local, mas não aconteceu. Então não tínhamos estrutura para continuar. Se tivesse iluminação e todos os vagões ocupados, o espaço seria melhor aproveitado e não ficaria ocioso e nem expostos a serem utilizados pela população em situação de rua. Foi um investimento caro e mal aproveitado”.

Para o músico e ex-coordenador de eventos do Estação Urbana, Nando Mantoni o abandono local mostra a fragilidade dos investimentos culturais em Campo Grande.

Segundo a coordenadora de evento, Mara Rojas, o abandono dos vagões também foi um dos motivos para o afastamento do público.“Os vagões possuem responsáveis e a concessão é cara, mas a prefeitura  não deu assistência e respaldo para que outros vagões fossem abertos. Se a prefeitura assumisse os vagões de volta e fizesse uma nova concessão talvez aquele espaço poderia ser melhor aproveitado. Senão vai ficar sendo um ponto de usuários e um lugar marginalizado, pois se a população não pode ocupar por causa da burocracia é ocupada por usuários pq está abandonado. Não faltaram pessoas perguntando de como conseguir um vagão para algum projeto, mas a prefeitura não pronunciava”. 

A Plataforma Cultural substitui a Orla como local para eventos (Foto: Ana Planez)

De acordo com o produtor cultural, músico e organizador de eventos culturais na Orla Ferroviária e na Plataforma Cultural, Rodrigo Castejon conhecido como General R3, o local deve ser mantido como forma de preservação histórica da identidade cultural da capital.

A produtora cultural independente Suzamar Rodrigues organiza eventos em lugare públicos, como a Orla Ferroviária. Para Suzamar, ocupar esses espaços públicos é uma forma de inserir arte e cultura na cidade. A Orla é um local onde grupos considerados marginalizados, como os de movimentos relacionados ao hip hop e ao skate, dos quais Suzamar faz parte, podem ter espaço para organizar eventos de uma maneira mais fácil e acessível.

Histórico

A Orla Ferroviária, localizada no antigo espaço da linha férrea de Campo Grande, foi inaugurada no dia 22 de dezembro de 2012, na gestão do ex-prefeito Nelson Trad Filho. Na inauguração, os permissionários dos quiosques de alimentação assinaram um contrato que estabelecia convênio com o Programa de Parceria Municipal (Propam) que garantia financiamento da prefeitura para a conservação do patrimônio local. O projeto, que teve como base a recuperação do leito da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), esteve abandonado com diversos espaços ocupados por traficantes e usuários de entorpecentes.

Para o coordenador da Plataforma Cultural, Sidney Lemos a Orla Ferroviária foi abandonada pelo público por causa da falta de segurança na localidade.

Segundo Lemos, a prefeitura deve custear a infraestrutura dos eventos, mesmo com a organização independente dos produtores culturais, para o melhor aproveitamento do espaço público. 

A gerente da Divisão Patrimonial e Espaços Públicos da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur), Lenilde Ramos explica o descaso do poder público com a Orla Ferroviária. "Este ano a Sectur está com uma novidade de ter a responsabilidade de dezenove espaços públicos, entre eles, a Orla Ferroviária, que estava sem o incentivo financeiro da prefeitura, pois ela não tem dinheiro. A região está bem no meio da cidade e sofre com a incidência de vândalos, dependentes químicos, de violência, e isso aí é uma questão que ela não tem como ser resolvida de uma hora pra outra, porque não é só aquele ponto da orla que sofre com essas limitações, é o centro velho da cidade como todo".

Segundo Lenilde, a revitalização da região da Orla faz parte do projeto Reviva Centro, que tem verba garantida pela Prefeitura Municipal de Campo Grande. "Não dá pra revitalizar se não tiver um projeto maior para a orla ferroviária, dentro do centro da cidade, que ela vai continuar a ser depredada. Se a gente não resolver a questão macro do centro da cidade, não temos condição de resolver só sobre a orla ferroviária". 

 

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