O volume de chuvas em Campo Grande ultrapassou em 21% a média do mês de setembro, de acordo com dados do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS). Na capital foram registrados 89,4 milímetros (mm) de chuva em comparação a média nos últimos anos de 73,9 mm. Em dois anos, os índices de precipitação registrados em setembro aumentaram 141%.
No início do mês de outubro, Campo Grande registrou focos de alagamento decorrentes do volume de precipitação nas regiões urbanas do Prosa e Segredo. A chuva acompanhada de ventos fortes provocou danos de patrimônio, derrubou árvores, cobriu veículos e interrompeu o tráfego. Os danos causados ocorreram, principalmente, em razão da falta de drenagem das vias públicas e imóveis do município.

(Foto: Leticia Marquine)
Segundo a especialista em Meteorologia e coordenadora do Cemtec-MS, Franciane Rodrigues com início da primavera as pancadas de chuva ficam mais recorrentes, a umidade relativa do ar aumenta e há forte nebulosidade. “A chuva nessa época é normal, o problema é que a quantidade não está sendo muito normal. Isso é decorrente do sistema de baixa pressão na região da fronteira e essas nuvens têm avançado para Mato Grosso do Sul e provocando essas chuvas em grandes acumulados”.
De acordo com informações do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), Campo Grande apresenta volumes de precipitação média crescente que registram os maiores índices de outubro a janeiro, por estar em zona climática de transição entre o mesotérmico úmido sem estiagem e o tropical úmido. Para o mês de outubro, a precipitação prevista é de 147,9 mm.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), que organiza a ocupação urbana de Campo Grande, está em vigor desde 2006. Segundo a promotora de Justiça Andréia Cristina Peres da Silva, titular da 42ª Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, a revisão do documento é feita a cada dez anos. Em 2016, deveria ser realizada atualização. A Câmara Municipal de Campo Grande definiu 25 de outubro como prazo para entrega do relatório do Plano.
De acordo com Andréia Cristina Peres da Silva, o Plano contribui para o direcionamento de ações de desenvolvimento urbano e deve estar de acordo com o Estatuto da Cidade e os interesses da coletividade. “O Plano Diretor precisa organizar a ocupação do espaço, porque existem determinados lugares da cidade que não são adequados para um parcelamento, por exemplo. O nível de água pode ser muito superficial, qualquer chuva gera alagamento e pode correr risco inclusive de desmoronamento. Tem lugares que não são passíveis de ocupação humana e tem que ser reservado para vegetação”.
A promotora ressalta que os problemas de escoamento durante as chuvas reforçam a importância da gestão ambiental das bacias hidrográficas, do planejamento adequado das redes de infraestrutura urbana e do controle do escoamento das águas pluviais. “A rede de drenagem é um serviço público caro e não é muito simples. Quanto mais impermeabilizado fica o solo, mais dificil vai ficar para a água penetrar e alimentar o lençol freático”.
Segundo o professor de planejamento urbano do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Rubens Silvestrini o uso inadequado do solo de Campo Grande provoca enchentes e afeta a qualidade de vida da população. “A partir do momento que o solo é impermeabilizado nós temos uma taxa de infiltração cada vez menor e no caso de uma grande contribuição de água, uma chuva muito forte, vamos ter pontos de alagamento em lugares mais baixos”.
O professor destaca que o Plano Diretor traz medidas de zoneamento para projetar uma ocupação mais controlada da cidade. "Criar mecanismos jurídicos, legislativos para a sociedade para que não haja um adensamento populacional muito grande em alguns bairros. O zoneamento poderia prever uma taxa de hipermeabilização, ou seja, uma taxa construção habitacional menor, para que as pessoas não construam e pavimentem seu terreno todo".
O engenheiro ambiental Ariel Ortiz Gomes explica que as inundações são ocasionadas pelo grande volume de escoamento superficial e que a principal medida para prevenir os alagamentos é a contenção de água no próprio imóvel. “Essa questão de pensar a casa que infiltre mais a água no solo, que utilize pavimentos permeáveis, ou mesmo que você reserve a água da chuva para utilizar depois como lavagem, isso é importante”.
O diretor de planejamento urbano da Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb), Rodrigo Giansante afirma que existem medidas estruturais de contenção em execução na capital e outras previstas que objetivam diminuir o encontro de grande volume de água em períodos de chuvas elevadas. “Temos 11 bacias urbanas na cidade, dessas bacias ele [Plano Diretor] fez um detalhamento de medidas mitigatórias para a instalação de dispositivos estruturantes na bacia do Prosa. Mas ainda temos coisas a serem executadas como por exemplo a comporta automatizada do lago do Parque das Nações”.